Opinião

Os refugiados

11 fev 2016 00:00

As televisões, por seu lado, mostram-nos imagens brutais desta tragédia que se abate sobre quem foge da guerra e da fome. O desespero é chocante.

As notícias sobre os refugiados inundam os meios de comunicação. Os jornais e os “media” em geral dão-nos conta dos naufrágios e mortes daqueles, com particular destaque para as crianças, que procuram apenas um abrigo.

As televisões, por seu lado, mostram-nos imagens brutais desta tragédia que se abate sobre quem foge da guerra e da fome. O desespero é chocante. Quem pode esquecer o corpo do pequenino Aylan Kurdi? E quem pode esquecer as máfias que para a travessia do mediterrâneo e do Egeu metem vidas humanas e crianças em cascas de noz, indiferentes a toda a miséria humana?!

Perante tal tragédia esperar-se-ia que a solidariedade se impusesse à Europa como um imperativo. E isto acontece com os cidadãos anónimos, nomeadamente nas ilhas Gregas, que procuram minorar o sofrimento dos refugiados, enquanto a “União” Europeia e os restantes Estados que a constituem, na melhor das hipóteses, olham para o lado. Na melhor das hipóteses, pois o que acontece é que somos diariamente confrontados com o seu cinismo e desumanidade.

A Dinamarca confisca os bens dos refugiados acima de mil e poucos euros e a Suécia prepara-se para expulsar cerca de oitenta mil refugiados a acrescer aos vinte mil que a Finlândia vai igualmente pôr fora de fronteiras!

Mas mais: há alguns dias, várias dezenas de homens mascarados dirigiram-se para o centro de Estocolmo onde atacaram pessoas com “aparência” de estrangeiros, distribuindo panfletos incitando ao ódio e à “punição” das crianças de rua de origem norte africana.

Acresce que a Comissão Europeia quer sancionar e penalizar a já massacrada Grécia – que dá lições aos ricos da Europa – porque, diz Bruxelas, existem “graves deficiências” no controlo das fronteiras externas da UE, e, chegando a ministra do interior da Áustria, Johanna Mikl-Leitner, a defender a sua “exclusão provisória” do espaço Schengen! Ou seja,

A Comissão Europeia responsabiliza mesmo a Grécia por não estar a impedir a entrada de refugiados no país. E é este o cinismo de uma Europa que no passado 27 de janeiro se permitiu homenagear o Dia Internacional da Vitimas do Holocausto…

É a hipocrisia instalada numa Europa onde Roma tapa (esconde) estátuas e outras obras de arte dos museus capitolinos para não “melindrar” o chefe do Irão (o Presidente Hassan Rohani) com a nudez que exibem.

De notar que Rohani afirmou num fórum de empresários que o Irão era o país mais seguro da região, sendo, como é sabido, o financiador e organizador por excelência do terrorismo a nível global, sendo que apresenta dos piores registos em termos de direitos humanos, onde a “sharia” (lei Islâmica) é a lei nacional, a qual leva à lapidação de mulheres ditas adúlteras e pratica o enforcamento de homossexuais…

Vivemos um tempo triste! Um tempo em que o cinismo e a hipocrisia campeiam. Mas um tempo também que torna por isso mesmo imperativo lutar para manter a esperança num devir histórico que está nas nossas mãos construir.

*Advogada