Editorial

Os condomínios e os “condemónios” 

13 jul 2023 09:30

Muitos condóminos teimam em encarar os espaços comuns dos prédios como algo que não lhes diz respeito

As guerras e os desentendimentos entre vizinhos, sobretudo os que partilham prédios e condomínios, são cada vez mais frequentes e por vezes insólitas, como aqui demos conta num trabalho desenvolvido há quase dois anos. Nessa reportagem, entre outras bizarrias, contámos o caso do inquilino que resolveu ‘curar’ chouriços na varanda do seu apartamento, deixando escorrer a gordura para a roupa do vizinho de baixo, acabada de lavar, ou do condómino que decidiu ter gansos como animais de companhia.

Esta semana, voltamos ao tema dos condomínios, a propósito de um estudo que revela um outro panorama preocupante. Segundo concluiu a Unión de Créditos Inmobiliarios, 87% dos condomínios não efectuaram obras nos imóveis nos últimos 18 meses, por falta de dinheiro.

A tendência, que tem contribuído para agravar a degradação do parque imobiliário, não surpreende nem as empresas de gestão de condomínios, nem o presidente da Associação Nacional de Proprietários (ANP). E porquê? Porque além das quezílias entre vizinhos, estes responsáveis já estão habituados não só a crise financeira que vai corroendo os orçamentos familiares, mas em particular à mentalidade de muitos condóminos, que teimam em encarar os espaços comuns dos prédios como algo que não lhes diz respeito.

Se juntarmos a isto o facto de muitos proprietários se esquivarem ao pagamento da quota para o fundo comum de reserva (embora seja obrigatória em todos os condomínios), ou dos valores estabelecidos para esta conta poupança serem claramente reduzidos, facilmente se vislumbram os efeitos negativos a longo prazo no parque habitacional da nossa região.

É que, segundo os gestores de condomínios ouvidos pelo JORNAL DE LEIRIA, há pessoas que não têm condições financeiras para pagar esta quota mensal e avisam os administradores. Mas há outras que não pagam, pura e simplesmente “por desgoverno ou má vontade”.

Nestes casos, vale a pena recordar as palavras do presidente da ANP, António Frias Marques, quando disse, em tom irónico, que os condomínios começam a ter cada vez mais “condemónios”.