Opinião

O todo que somos

18 abr 2016 00:00

Quando o pensamento se detém em alguém próximo com quem já não estamos há muito, ou com quem nunca mais poderemos estar

Quando o pensamento se detém em alguém próximo com quem já não estamos há muito, ou com quem nunca mais poderemos estar, não será o que disse, o que conseguiu alcançar, o quanto eventualmente nos ajudou, ou a nossa capacidade de manter a sua imagem perfeitamente retida na memória, que nos fará suspender o tempo e sentir em poucos segundos o impacto que essa vida teve, tem, em nós.

As lembranças físicas mais valiosas prendem-se antes com as minudências de um gesto, com o significado de uma inflexão de voz, com uma forma única de olhar com atenção, com uns quase imperceptíveis primeiros sinais de impaciência ou com uma muito particular forma de expressar felicidade.

É fácil lembrarmo-nos da sua altura, da cor do cabelo ou da sua forma de andar, mas essas são lembranças que pertencem a todos, acarinhadas pelo nosso pensamento, sim, mas não impregnadas da íntima impressão que esse outro ser deixou em nós.

Do mesmo modo, aquilo pelo que lutou, os feitos que realizou ou os valores que defendeu, tornam-se menos importantes do que a sensação que nos provoca a sua lembrança, também ela construída com pequenos momentos: uma atitude particular, uma frase marcante, um silêncio que conseguimos desvendar ou uma inesperada tristeza.

O que nos fica dos outros é o que deles se revela a nós, de forma particular, e nos impressiona. É uma nossa involuntária escolha de vivências de entre o somatório indefinível das experiências que nos ligaram, que nos afecta e nos vai dando o tom desse encontro.

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