Opinião

O processo de tomada de decisões

30 mai 2022 15:45

Demoramos décadas a tomar decisões estruturais imprescindíveis para o desenvolvimento e modernização do país

Uma das tarefas mais complexas para quem manda num país, empresa ou qualquer outra organização ou, mesmo, a nível familiar ou individual, ou em situações limite, é tomar decisões.

Não vou abordar este tema, neste artigo, sob o ponto de vista técnico – existem milhões de textos e vídeos na Internet sobre o assunto, desde tomar decisões individuais na nossa vida, até como tomar decisões em grandes empresas ou organizações.

O essencial num processo de tomada de decisões é ter um objectivo claro a atingir, definir a estratégia para o alcançar, estabelecer alternativas (Plano B), recolher informação relevante relacionada com o objetivo, planear o caminho através de um Plano de Negócios realista, estabelecer indicadores (KPI) de controlo para o seu acompanhamento e acompanhar efectiva e atempadamente o que está a acontecer para correcção de eventuais desvios em tempo útil.

Destacaria, neste texto, um aspecto frequente que afecta o processo de tomada de decisões que é a chamada “paralisação pela análise”, inicialmente descrita por Igor Ansoff no início dos anos 1960 e imortalizada pelo Professor de Harvard, Theodore Levitt.

As considerações que estes precursores fizeram do estudo das causas e efeitos desta paralisação são, actualmente, muito mais pertinentes dada a imensidão de informação que se encontra disponível sobre qualquer tema.

Na presença de muita informação, o decisor tende a ficar ansioso e não consegue decidir, pelo que terá de escolher e concentrar-se em poucas questões.

Jeff Boss, na revista Forbes, abordando este tema, escreveu (tradução livre): “Não interessa que direcção escolhes quando estás debaixo de fogo mortal, basta que fujas para o mais longe possível”.

Naturalmente, as coisas não são assim tão simples nas decisões empresariais, mas ao ficar parado tornamo-nos num alvo da concorrência, perdemos talentos, perdemos clientes e, provavelmente, temos de atirar com a toalha ao chão.

Quando se trata de decisões a nível governamental, a paralisação pela análise é potenciada pela paralisação pelo efeito dos lobbies de origem diversa que actuam na sociedade, não só lobbies representativos de interesses empresariais e financeiros, mas também organizações activistas de defesa das mais variadas causas.

O lobbying vem agravar a tendência natural dos governos dos países democráticos para tomarem decisões de curto prazo e evitarem as decisões de longo prazo que ultrapassam a duração dos seus mandatos, temendo que essas decisões possam prejudicar a sua reeleição.

Portugal é um bom exemplo nesta matéria: demoramos décadas a tomar decisões estruturais imprescindíveis para o desenvolvimento e modernização do país.

Tive a sorte de ainda ver a Barragem do Alqueva construída, mas duvido que viva o suficiente para ver um novo aeroporto em Lisboa.