Opinião

O futuro do trabalho

27 set 2021 15:45

A curto prazo continuará a haver emprego, pode é não haver pessoas com aptidões adequadas para os mesmos

O tema do trabalho no futuro, com o desenvolvimento da automação e de outras novas soluções tecnológicas que substituem as tarefas actuais desempenhadas por pessoas, começa a preocupar vastos sectores da sociedade, tendo sido publicados recentemente alguns livros sobre esta questão, realizadas inúmeras conferências e ocupado cada vez mais espaço nos meios de comunicação social.

A preocupação fundamental é o impacto que estas novas tendências de robotização terão sobre o emprego a curto prazo e, sobretudo, ao longo do século XXI se se confirmarem as perspectivas de grande avanço nas áreas da inteligência artificial, da cibersegurança, da machine learning, das superplataformas e de outras tecnologias inteligentes.

Não estamos, apenas, a falar de trabalhos repetitivos e de baixa especialização, mas de tarefas especializadas como, por exemplo, diagnósticos médicos, arquitectura e muitos outros.

Contudo, acredito que a robotização pode gerar novos empregos para as pessoas substituídas pelo equipamento, desde que essas pessoas, os empregadores e o Estado se preocupem em melhorar as qualificações de quem foi substituído pelo robô de modo que possam ganhar aptidões para desempenhar outras funções.

A curto prazo continuará a haver emprego, pode é não haver pessoas com aptidões adequadas para os mesmos.

Mas, a longo prazo durante este século, as disrupções tecnológicas serão de tal ordem e ainda desconhecidas em muitos casos que, segundo os especialistas, não haverá empregos suficientes para todos.

Dada esta incerteza, também as escolas e as universidades não sabem concretamente o que devem ensinar, mas começa a ser consensual que devem ensinar os jovens a fazer o que as máquinas e equipamentos não conseguem fazer, tais como, tarefas que requerem capacidades interpessoais, resolução criativa de problemas, trabalho em equipa, capacidades de comunicação, resiliência e empatia, entre outras.

Ou, naturalmente, ensinar a conceber, desenhar ou melhorar esses equipamentos tecnológicos.

Contudo, a grande questão que se coloca é saber o que fazemos das pessoas que não irão ter emprego num mundo organizado em torno do conceito que a distribuição de rendimentos é através da remuneração do trabalho sabendo que, para a maioria, o emprego é a única fonte de rendimento?

A solução passa necessariamente pela reforma global do sistema de impostos, taxando as pessoas e empresas que lucram fortemente com a utilização ou o desenvolvimento desses equipamentos e encontrar nova chave de distribuição pelas pessoas que não irão ter trabalho porque “ninguém é dispensável”.

Quanto lucraram as farmacêuticas que comercializaram as vacinas anti Covid-19?

E quanto pagaram de impostos, tanto essas empresas como os seus accionistas através da distribuição de dividendos?