Opinião

Música | Piano Works, de Hior Chronik

8 ago 2020 12:18

George Papadopolous, nascido em Atenas em 1974, veio avigorando a sua relação com a música desde que trabalhou quer como radialista na Jazz fm, no início dos anos 90, quer como colunista para várias revistas da especialidade

Hoje, sob o nome artístico Hior Chronik, e agora baseado na vibrante cidade de Berlim, este pianista e compositor vê a sua discografia começar em 2010, embora algo timidamente, com I'm a tree, numa edição de Enregistrements Variables (Montreal, Canadá).

Nos dias de hoje, a sua produção musical parece não dar sinais de abrandamento.

Quem acompanha estas minhas sugestões mensais saberá que muito raramente navego fora do universo musical dito “minimal” ou, numa designação menos consensual, “clássico-contemporâneo”, e isto porque não só neles me sinto confortável, mas sobretudo por os sentir algo injustiçados no curto alcance mediático que geralmente têm.

Hior Chronik pertence, sem sombra de dúvida, a esta vasta família e o seu mais recente álbum Piano Works (2020) é notório disso mesmo.

Não nos esqueçamos que o termo “minimalismo” trazia consigo uma conotação algo pejorativa quando surge (começa a ganhar foco na cidade de Nova Iorque, nos anos 60, especialmente pelas mãos de Terry Riley, Philip Glass ou Steve Reich).

O minimalismo sugere o despir da arte até à sua essência, dele geralmente sobrando muito espaço para o ouvinte se imiscuir, trazendo-nos por isso músicas que facilmente se enquadram em narrativas cinematográficas, complementam obras visuais ou acompanham longas sessões de yoga ou meditação.

É verdade que muitas são as vozes que tendem a torcer o nariz (neste caso, a orelha) a este movimento, sobretudo assentes na ideia (ironicamente, algo redutora) de que por vezes o minimalismo poderá não ser suficiente, que poderá ser demasiado previsível, muito hirto nas suas componentes harmónicas e rítmicas.

Há naturalmente, alguma verdade nestas críticas mas também é importante frisar que os compositores deste género procuram ser muito complacentes e generosos com quem os escuta, no sentido de lhes conferirem espaço para que estes ouçam as suas próprias vozes (até melodicamente falando), refreando os seus estímulos mais virtuosísticos e elogiando muito as pausas e o silêncio, pois nele caberão imensas emoções.

Os movimentos algo padronizados, subtis alterações melódicas e uso frequente de sons electrónicos de longa sustenção, induzem momentos quase hipnóticos e de alcance contemplativo.

Este Piano Works cumpre esses pressupostos e empurra-nos para aquela introspecção nostálgica e bem casuística, com bonitos arranjos para instrumentos de cordas que muito bem acompanham o piano algo taciturno (a juntar ao olhar também ele profundamente melancólico do autor, pois para além de músico é um fotógrafo excepcional) de Hior Chronik.

Piano Works saiu pela KITCHEN. LABEL.