Opinião

Música | Melodias que resgatam memórias

7 ago 2021 09:34

Da longínqua Austrália, trago-vos mais uma evocação do nosso sempre vibrante universo clássico-contemporâneo, desta vez sob a forma de ecos pelas mãos – e alma - de Rose Riebl

Aos 31 anos de idade, a pianista que se revelava já um pequeno prodígio aos 5, traz hoje à corrente do minimalismo uma certa virtuosidade contagiante não habitualmente vista.

Li algures numa entrevista que, um certo dia, durante a infância de Rose, o seu tio - um professor de viola na Mozarteum University Salzburg - visitou a cidade de Tallarook, Victoria (onde a jovem crescera e a família tinha uma propriedade) para procurar testar as aptidões musicais dela e de seus irmãos, tocando pequenos excertos no piano de parede que, por lá, tinham e pedindo às crianças que os reproduzissem da melhor forma que soubessem.

Todos pareciam conseguir replicar o que ouviam, sem grandes falhas... no entanto, foi a pequena Rose de apenas 5 anos de idade que se destacou ao reproduzir tudo aquilo com surpreendente perfeição, usando as duas mãos no teclado e sem quaisquer aulas de piano até então.

O tio advertiu: “esta tem o que é preciso, levem-na a ter aulas.”

Aos 8 anos, Rose já brilhava interpretando sonatas de Beethoven. Enquanto isso, nas costas do livro de partituras, redigia já pequenas composições suas.

Houve, todavia, um período – na sequência de um percurso académico brilhante, mas sempre assombrado por um certo temor reverencial pelo formalismo da música clássica – onde Rose chegou a recusar ofertas para frequentar a famosa escola de ensino superior de música, dança e teatro de Nova Iorque – Juilliard School, entre outros conservatórios; e dedicou-se ao estudo de literatura, trabalhou num circo e deixou mesmo de tocar piano!

Ainda assim, de breves ou longos interregnos é a nossa vida cheia e Rose cedo volta a desabrochar para a composição e para o instrumento que a escolheu.

“Do not move stones” (editado pela brilhante editora da Islândia de nome INNI, em 2021) é, pelo que me parece, o seu primeiríssimo registo de longa-duração e não me custa dizer que é uma verdadeira amálgama de estereótipos que emergem do que nos traz habitualmente o clássico-contemporâneo, mas, sem sombra de dúvida e fazendo toda a diferença, impregnados de um requinte e claro bom gosto.

O virtuosismo ao piano traz, ao contrário do que se poderia pensar, uma leveza contundente a estes temas tão elegantemente construídos e sustentados entre si, e não um certo formalismo ou propensão para o clássico que Rose poderia resgatar do seu percurso tão intenso a este nível.

É evidente a sua inclinação para o minimalismo, as possibilidades da electrónica e as suas texturas cinemáticas.

Disco maravilhoso de melodias que resgatam memórias.