Opinião

Música | Antes das versões

9 abr 2021 10:00

Fazer uma versão de uma canção é muitas vezes encarado com desdém ou olhado como caminho fácil, mas acredito que uma boa versão é sempre melhor do que um original mediano

Há realmente muitos exercícios de revisitação que têm um cunho criativo e personalizado e que se baseiam em temas previamente conhecidos ou famosos, mas outros há que usam originais que passam despercebidos ao longo dos anos e da maioria do público.

E, com curiosidade e tecnologia, é cada vez mais fácil procurar raízes e origens e alcançar aquele sorriso misto de satisfação e admiração. Até porque depois da expressão inicial “ah! Afinal, isto já existia” passamos muitas vezes para a fase de reconhecimento da genialidade dos intérpretes, que conseguem moldar algo à sua imagem e ao seu próprio universo.

Apesar de tentar estar atento ao que de novo se vai criando dou por mim a dedicar cada vez mais tempo a este exercício de procurar temas originais e excertos usados como samples (mas isso dará outro texto).  

E sim, a lista de temas que afinal até são versões e a maioria não fazia a mínima ideia é interminável e foi alimentando a nossa adolescência, juventude e vida adulta; a Venus, das Bananarama, afinal, é dos Shocking Blue, Joan Jett adora o Rock‘n’Roll mas antes dela já The Arrows and Friends tinham cantado o mesmo com os mesmos acordes.

Os Soft Cell deram uma vida nova a Tainted Love, de Gloria Jones, Bjork ressuscitou It’s Oh So Quiet, de Betty Hutton e os Run DMC juntaram-se aos Aerosmith para recriar Walk This Way, que era de Scarry Pockets e Judith Hill. O rei Elvis ficou encantado com Hound Dog, de Big Mama Thornton, os Clash já tinham ouvido I Fought The Law, por Buddy Holly e Janis Joplin cristalizou Me And Bobby McGee, de Roger Miller ou Piece of My Heart, de Erma Franklin. 

E muitos temas bandeira de determinados nomes são também versões, oiçam-se os originais Respect, de Otis Reading ou Valerie, dos Zuttons.

No grande ecrã também se transformaram versões em autênticos hinos como como os Urge Overkill, em Girl, You’ll be a Woman Soon, de Neil Diamond ou Withney Houston, em I Will Allways Love You, de Dolly Parton. 

Mas também é no universo do cinema clássico que moram muitos originais que depois são “repescados”, como o Feeling Good, de Gilbert Price que foi de voz em voz desde Nina Simone aos Muse. 

Note-se ainda por exemplo o tom contemporâneo que os Fugees deram a Ready Or Not, dos Delphonics ou a Killing Me Softly, de Roberta Flack, que Moby deu a Take Yo Praise, de Camille Yarbrough, ou a Trouble So Hard, de Vera Hall.

E para fechar, a sugestão da viagem que os Nirvana deram ao blues clássico de Lead Berry, Where Do You Sleep Last Night, em My Girl ou a forma como escavaram o acervo de David Bowie em, The Man Who Sold The World.
  
Mas, melhor que texto e escutarem a playlist destes e de outros originais que podem encontrar a acompanhar esta crónica no site do JORNAL DE LEIRIA.

 

Para ouvir aqui na Spotify Playlist

do JORNAL DE LEIRIA