Opinião

Morrer é perder o ser

6 jul 2017 00:00

Colocaram nas nossas bocas, emudecidas pelo luto, palavras que eram apenas suas numa verborreia infame dos seus particulares interesses.

Opensamento é de Calderón de la Barca, dramaturgo e poeta espanhol do século XVII, atribuída a D. Fernando, o nosso Infante Santo, quando refém em Fez. Nos dias tristes que vivemos, para além das vidas tragicamente perdidas, todos nós morremos porque perdemos o ser.

Não cabe ao âmbito desta crónica dissertar sobre as causas a montante que promoveram tão calamitoso desastre. Avisos e reparos foi o que menos faltou em tempo útil, pelo que agora é tempo de escutar as palavras avisadas dos técnicos, aprender com eles e mudar o que tem que ser mudado para que jamais se repitam dias tão cruéis.

Menos ainda é tempo para inferir suspeitas de inoperância e incompetência sobre mulheres e homens que se confrontaram com uma catástrofe nunca vista, e que no imediato tiveram que dar resposta à dimensão de um poder devastador que os ultrapassava. Muitos deles foram heróis, tragicamente alguns se tornaram mártires, mas nenhum pode ser apontado como incapaz de ter feito o seu melhor.

Morremos todos naqueles dias porque perdemos o ser. Levaram-nos a perder o ser uns quantos que dizem querer representar-nos e falar em nome de quem não tem voz. Confundiram tudo.

Colocaram nas nossas bocas, emudecidas pelo luto, palavras que eram apenas suas numa verborreia infame dos seus particulares interesses. Uns, ainda a dimensão da tragédia era desconhecida e cadáveres haveriam de se descobrir, emitiam já notas para a comunicação social a exigir o pagamento atempado dos prejuízos, não fosse perder-se a oportunidade de marcar agenda política e dizer-se que não tinham sido os primeiros a reivindicar.

*Psicólogo

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