Viver

Luís Veríssimo

6 mar 2016 00:00

Perante a surpresa e o clamor dos clientes, que jamais poderiam conceber tal cena, Luís Veríssimo pediu calma e esclareceu o povo, inquieto com tão prodigiosa mudança: "Estou a caiar a adega!"

Em conversa outro dia com o meu primo José Luís Azevedo, perguntei-lhe se alguém algumas vez tinha anotado as piadas do tio dele, Luís Veríssimo, cultor da piada rápida, duma cultura muito acima da média "bebida" na biblioteca do pai, da língua alemã que lhe tinha ficado duma refugiada da guerra, do fado A Estrelinha do Norte que interpretava a certas horas da noite ou do trautear dos primeiros compassos da 5.ª sinfonia de Beethoven, e da amizade com uma paleta de bons eno-amigos.

Disse-me o Zé Luís que não tinha conhecimento, e que a maior parte das testemunhas que teriam coisas para contar, já estavam na companhia dele a purificarem-se nos néctares divinos ou a assar chouriços nas chamas de qualquer inferno, certamente já adaptado para o efeito.

Era uma notável figura desse tempo, que se gabava de "ter bebido duas heranças". Há dezenas de boas anedotas. A mais conhecida de todas passou-se do seguinte modo: Um dia, Luís Veríssimo foi surpreendido bebendo ao balcão de uma qualquer pastelaria um enorme copo de leite.

Perante a surpresa e o clamor dos clientes, que jamais poderiam conceber tal cena, Luís Veríssimo pediu calma e esclareceu o povo, inquieto com tão prodigiosa mudança: "Estou a caiar a adega!"

Recordo da equipa que regularmente se deslocava para “lanches”, após assinatura do ponto, à praça, na farmácia do Coelho: Fernando Cortês Pinto, muito cortês e não menos tinto, Albertino Baptista, lento e silencioso, Aníbal Varela, que comia flores no jardim e copos, Américo dos Santos Catita, solteiro de profissão, João Franco, culto e bom amigo, Coelho de Freitas, boticário, Santos Sal, tiradentes, Chico Marques, vendedor, futebolista, monárquico e ex-secretário de Norton de Matos, Chico Graça, Tudelas, Zúquetes, Marques da Cruz, Monteiros, etc, etc, e muitos outros que não conheci, mas que ouvi falar, como um Wellenkamp que tocava violão primorosamente.

O meu pai tinha em mente fazer um apanhado das piadas do Luís, tarefa que penso não tenha chegado a fazer, pois ainda não tive tempo de dar a voltas a todos os papeis que deixou escritos. No entanto, nos três livros de memórias que escreveu, muito ligados à sua vida profissional, social e familiar, pode haver alguma historieta que se possa recuperar, sinceramente não tenho tudo presente.

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