Opinião

Lições de (má) gestão

24 nov 2022 16:33

Em cerca de quatro semanas com o novo proprietário, a estratégia do Twitter também mudou várias vezes

Os últimos tempos têm sido interessantes para quem tem interesse por gestão. Enquanto professor da matéria, ando diariamente com um bloco de notas a apontar todas as lições que posso, tal é a raridade de oportunidades de aprendizagem em tempo real! O meu objeto de estudo tem sido a transferência de propriedade do Twitter e todos os detalhes envolvidos. Até agora, já aprendi muitas coisas – nomeadamente o que não fazer.

Em Abril de 2022, Elon Musk fez uma oferta para comprar a empresa Twitter por 44 mil milhões de dólares (cerca de 20% do PIB português). Atendendo a que a empresa teve prejuízo em 8 dos últimos 10 anos (incluindo em 2021), o lucro não parece ser a principal motivação do negócio. Aliás, apesar de ser o homem mais rico do mundo, Musk teve que reunir fundos e apoios de diferentes origens – incluindo do príncipe saudita Al Waleed bin Talal Al Saud, e do fundo soberano do Qatar – o que faz suspeitar que as motivações podem não ser financeiras nem tampouco relacionadas com a liberdade de expressão ou outras.

Lição n.º 1: Comprar empresas que dão lucro. Durante o Verão de 2022, Musk terá mudado de ideias, anunciando que já não queria adquirir a empresa. Contudo, uma vez que uma OPA é um instrumento legal e vinculativo, os acionistas do Twitter colocaram um processo em tribunal – e perante a inevitabilidade de uma decisão desfavorável, Musk a concluiu a aquisição em 28 de Outubro de 2022.

Lição n.º 2: Antes de decidir comprar uma empresa, ter a certeza. No dia em que concluiu a aquisição, o novo dono da empresa despediu os anteriores gestores de topo. Nada de estranho, até aqui, mas no dia 4 de Novembro de 2022, Musk despediu cerca de metade dos trabalhadores – sem aviso prévio, nem motivo aparente que não “é necessário despedir pessoas”.

Aparentemente surpreendido com a desmotivação dos trabalhadores restantes, no dia 18 de Novembro Musk enviou um email a todos os funcionários com uma mensagem simples: ou se comprometiam a colaborar na sua “versão hardcore” da empresa, “trabalhando longas horas a alta intensidade” – clicando num botão até às 17h00 desse dia – ou então podiam considerar-se despedidos.

Ainda que não haja indicação oficial (o departamento de comunicação do Twitter foi o mais afetado pelos despedimentos), as estimativas são que cerca de 75% dos 7.500 trabalhadores que a empresa tinha no momento da aquisição já terão saído. Já houve falhas da plataforma, e especialistas indicam que se tornarão mais frequentes e mais graves.

Lição n.º 3: Uma empresa precisa de trabalhadores tratados dignamente. Em cerca de quatro semanas com o novo proprietário, a estratégia do Twitter também mudou várias vezes. Desde soluções que foram apresentadas com pompa e circunstância, desenvolvidas em contrarrelógio, falhando espetacularmente e sendo arquivadas, até um ziguezague permanente sobre o comportamento de futuro da empresa.

Lição n.º 4: Quando compra uma empresa, ter uma ideia do que fazer com ela. Estou ansiosíssimo pelas próximas lições!