Opinião

Letras | Latitudes, Ana Gilbert e Cristina Vicente

13 jun 2025 08:17

Duas mulheres em latitudes diferentes, continentes diferentes, espelhando as estações que a todos acalentam ou arrefecem no (des)amor dos dias, com um castelo-casa de voltar

Nesta edição, fazemos a apresentação do novíssimo livro Latitudes, que brota da parceria entre duas figuras que em muitos anos fazem casa num dos projectos mais bonitos na relação fotografia-poesia, de Leiria para o mundo e do mundo de volta, Fotografar Palavras. São elas as fotógrafas Ana Gilbert e Cristina Vicente, nomes maiores deste projecto que teve a sua génese, no laborioso escritor Paulo Kellerman, e “onde se cruzam palavras, escritas por vários escritores, com fotografias, tiradas por vários fotógrafos - transformar palavra em fotografia”.

Deste projecto, surgem colaborações paralelas, como esta, que desenha latitudes. Duas mulheres, que além da fotografia e das suas actividades profissionais também desenvolveram na escrita esse amor à arte. Duas mulheres com personalidades tão fortes quanto sensíveis. Duas mulheres em latitudes diferentes, continentes diferentes, espelhando as estações que a todos acalentam ou arrefecem no (des)amor dos dias, com um castelo-casa de voltar.

O livro tem numa das faces a latitude fotográfica de Cristina Vicente, preto e branco de outono e inverno, para a poesia de Ana Gilbert. As estações preferidas da fotógrafa carioca, que na nostalgia escreve poesia vertida em sensibilidade à flor da pele.

Na outra face, a latitude fotográfica de Ana Gilbert nas estações de primavera e verão a preto e branco, para a poesia de Cristina Vicente. A possibilidade do amor. A esperança do seu florir. Mas a assunção das estações mudarem e tudo poder terminar. “Nenhum lugar é horizonte seguro.”

A ausência de cor ao primeiro olhar, é verdadeiramente pintado pela poesia e enamoramento pela esperança. A negritude é no seu pior, uma melancolia de acreditar após os invernos. Há sempre um poema pronto a confortar após um fim.