Opinião
Letras | Como um Suspiro: Entre Memórias e Desejos – Uma crónica inspirada no romance de Ferzan Ozpetek
É, acima de tudo, uma reflexão sobre escolhas. Que vida teríamos vivido se tivéssemos seguido outros caminhos?
Ozpetek, com o seu olhar cinematográfico, constrói cenários onde o exílio, a saudade e a busca de identidade se entrelaçam. O romance é feito de silêncios, de olhares que dizem mais do que palavras, de perguntas deixadas no ar. Tal como um suspiro: leve, fugaz, mas carregado de significado.
Como um Suspiro é, acima de tudo, uma reflexão sobre escolhas. Que vida teríamos vivido se tivéssemos seguido outros caminhos? Seriam as nossas memórias menos dolorosas, ou o desejo permaneceria intacto, suspenso como um perfume que nunca se dissipa?
A obra de Ozpetek recorda-nos que o passado nunca está verdadeiramente distante; basta um sussurro, uma carta, para que tudo volte a pulsar.
Ao terminar o livro, fica-nos a sensação duma cumplicidade para além da morte. Uma culpa maior que acidental, uma vertigem inevitável entre o amor familiar e o amor escolhido. Dum amor que só pode estar unido enquanto distante e silencioso. Por vezes o amor maior, não será tangível, será na verdade, inatingível, e a resignação perante essa inevitabilidade, prosseguindo com a vida. Há algo de poético nisso.
“Só aos poetas e aos artistas concedo o luxo do descompromisso. Sensíveis como são, vivem já uma existência bastante atormentada: perdoa-se-lhes tudo. Criar pode fazer muito mal, esfola a alma. Mas a beleza de um poema que celebra os sentimentos [...] compensa todos os sofrimentos”.