Opinião

Letras | Cada Homem é uma Raça

28 dez 2021 20:00

Onze contos que mergulham numa certa melancolia dos acontecimentos

Mais um livro do escritor moçambicano Mia Couto, biólogo, jornalista e já vencedor de um Prémio Camões entre outras distinções.

Conhecido pela forma “colorida” como nos traz os cheiros da terra africana, é também um contador de histórias entre a ficção, o sonho, a terrível realidade. É escatológico na abordagem científica com que olha as coisas, sem que delas perca um lirismo estético, tão belo como as raças todas que povoam a mulher e o homem.

Cada Homem é uma Raça apresenta-nos onze contos que mergulham numa certa melancolia dos acontecimentos. Apresento aqui alguns que mais me cativaram deste livro.

A Rosa Carmela
A estória triste e lírica duma mulher que nascida bela, ostenta uma disformidade que carrega desde criança. Ela mata, mas mata mais a alma do que o corpo que não quer suportar menos que o corpo, mas mais a falta de amor.

O embondeiro que sonhava pássaros
O velho passarinheiro é espancado e preso. A culpa de ser negro, simples e feliz. Há um final poético triste.

A princesa russa
Um conto racial que eleva o quase-amor ao patamar da realidade. A pele branca e os olhos azuis que confundem o homem simples negro que vê na insanidade temporária da princesa a porta para a salvar e, contudo, nunca chegar a ter. Uma injustiça poética.

Mulher de mim
O conto mais místico, que acontece num mundo onírico onde o amor é a mulher que quer nascer do homem. Reencarnação ou eterno retorno?

Mais uma vez o continente africano surge nas notícias e logo intolerâncias se assomam. Como ainda se discutem as diferenças onde afinal somos todos humanos? “- Minha raça sou eu mesmo. A pessoa é uma humanidade individual. Cada homem é uma raça, senhor polícia.”