Opinião
E eu que só vinha p’ra falar de amor
É verdadeiramente impressionante como nos deixamos convencer por um grupo minúsculo de ultrabilionários e políticos medíocres de que o capitalismo
Quem apenas me conhece como cronista mensal deste jornal ter-me-á talvez como uma panfletária rabugenta. Sou panfletária, é certo, mas nunca fui rabugenta! O tom frustrado e angustiado com que tenho temperado os meus textos não são característica de personalidade, resulta das circunstâncias. Como diria A Garota Não, “eu quero ser sonhos/ E não quem maldiz”. Mas é difícil para quem está atento ao mundo e quer melhorá-lo.
O colapso climático está aí - Guterres declarou, a dias da nova COP, que a Humanidade falhou - e os homens horríveis que nos lideram agem como se a melhor forma de lidar com isso fosse um regresso à boa e velha economia de guerra que, como todos sabemos, nos dá sempre bons momentos para mais tarde fazer memoriais com inscrições comovidas tipo “nunca mais”.
É verdadeiramente impressionante como nos deixamos convencer por um grupo minúsculo de ultrabilionários e políticos medíocres de que o capitalismo, contra todas as evidências, é o sistema que nos vai salvar, quando ele depende totalmente de uma economia extrativista que cava incessantemente um buraco cada vez mais fundo na nossa existência, ao invés de encontrar soluções que nos livrem dos fósseis e nos orientem para o restauro ecológico.
Eles tomam decisões que nos levam à guerra, à dependência doentia de recursos escassos, raros e custosos, enquanto preparam os seus bunkers de luxo de onde irão assistir de bancada ao caótico resultado das suas ações. O mais recente momento que piorou o meu estado de indignação regurgitante é a notícia partilhada com pompa - como se fosse mais uma ideia genial dos nossos ricos políticos regionais - de que a “Região de Leiria avança com plano estratégico para a indústria da defesa”.
Era mesmo só o que nos faltava - aderir à estupidez colectiva de contribuir ainda mais para a economia de Guerra. Vamos, portanto, colocar mais empresas dependentes da indústria da guerra e trabalhadores a contribuir para isto nas fábricas, mobilizar recursos públicos da CIMRL para empoderar esta tendência, entrar na lógica de agressão?
Não! Promover soluções imaginativas, inovadoras e úteis para os problemas que realmente nos ameaçam é que devia ser a contribuição dos nossos decisores - devia ser esse o plano estratégico de liderança para a indústria da região! É tão triste que, uma vez mais, sigamos as tendências que nos empurram para o abismo.
 
                                                             
                         
                        