Opinião

Defender os defensores

19 nov 2020 14:46

Quem anda atento aos problemas de Direitos Humanos no mundo, certamente já se deu conta do agravar de ataques sistemáticos, violentos e letais a defensores de Direitos Humanos (DDH).

Falo de pessoas que se colocam activamente na linha da frente na defesa dos direitos de todos nós - do mundo inteiro. De todos os DDH sob ameaça, os mais atacados são os que se batem pelas causas ambientais.

Desde ambientalistas em países como a Nigéria ou Madagáscar, até aos povos indígenas que protegem com a sua vida a floresta Amazónica, passando pelas vozes silenciadas na Indonésia ou na Índia, estes activistas lutam por causas que nos beneficiariam a todos, se tivéssemos a decência de os ouvir e defender.

Falo-vos de pessoas que lutam para que as terras que habitam - que todos habitamos, na verdade - não sejam destruídas em nome de mais exploração de combustíveis fósseis; que colocam os seus corpos à frente de máquinas que desmatam florestas nativas para substituir por plantações e pastagens obliteradoras de biodiversidade; que são assassinadas impunemente por reis do gado sem lei; que nos alertam para a loucura das monoculturas sugadoras de água potável que escasseia no mundo inteiro… falo-vos de povos que há muito já sentem na pele os efeitos nefastos das alterações climáticas, vendo-se tantas vezes obrigados, quando sobrevivem, a abandonar os seus países, em caravanas de refugiados que serão mais adiante vilificadas e hostilizadas pelos principais causadores da sua desgraça.

Vejam o que está a acontecer, neste momento, na Nicarágua.

Um país que emite 0,02% das emissões mundiais de carbono está a ser arrasado pelo segundo furacão, este de categoria 5, em menos de duas semanas.

Vão ouvir nas notícias, talvez durante 30 segundos, nos próximos dias. É de uma injustiça inqualificável!

Sim, porque no Norte Global, onde mais se polui, onde se emitem mais gases de efeitos de estufa causadores das alterações climáticas, a infraestrutura para aguentar as “intempéries” é outra!

E mesmo assim, até essa sucumbirá se nada for feito, o que aliás já se pode constatar com a crise pandémica - isto anda tudo ligado...

Mas enquanto não sucumbir, há vidas no Sul Global que importa salvar.

Porque estão a dar o alerta que precisamos de ouvir, mas, acima de tudo, porque são, simplesmente, vidas.