Opinião

CULTURA, UNIVER(CIDADE) E (DES)ENVOLVIMENTO – XIV

7 dez 2016 00:00

Politécnicos querem chamar-se Universidades.

O jornal Público de ontem, dia 6 de dezembro de 2016, destaca, em primeira página, que os “Politécnicos querem passar a chamar-se universidades”.

E remete para duas páginas centrais uma entrevista feita ao professor doutor Nuno Mangas, Presidente do IPLeiria e novo presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP), que sucedeu, nesta rede, ao presidente do Instituto Politécnico de Portalegre, Professor Joaquim Mourato.

Os jornais locais e regionais não foram além de noticiar, em breves linhas, a eleição do novo presidente do CCISP. Santos da terra dificilmente fazem milagres. Ou, talvez a comunicação social e regional ainda não tenha percebido a importância do tema que aqui temos discutido semanalmente, há uns dois anitos, já, pelo menos.

E talvez não tenha  percebido, ainda, que Leiria coloca, pela segunda vez, o presidente do seu instituto politécnico como presidente do CCISP. Primeiro Luciano de Almeida, agora Nuno Mangas. Não se trata de uma associação local, com todo o respeito por todas, que eu também fundei algumas e sei das suas dinâmicas, mas, efetivamente, do órgão paralelo ao CRUP, o Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas. Um orgulho para o IPLeiria e, também, quero crer, para a sua região.

Pois o jornal “O público” faz uma brilhante entrevista a Nuno Mangas, uma entrevista em tempo oportuno e devidamente contextualizada com as discussões nacionais e regionais que o dualismo dos politécnicos/universidades tem gerado.

Sem rodeios, Nuno Mangas fala dos cortes financeiros que o ensino superior tem sofrido anualmente e que “deixaram as instituições em dificuldades […] e a precisar de investimentos em infraestruturas, equipamentos e pessoal”.

E fala, sem papas na língua, da estigmatização do ensino superior politécnico que leva a que, em tempos de crise na procura de cursos de ensino superior, alguns fiquem vazios nos concursos nacionais mas que acabam por ter, em consequência dos concursos locais, “taxas de ocupação que, na generalidade dos cursos, é superior às vagas iniciais”.

E fala, sem rodeios, e claramente, da necessidade de os politécnicos poderem conceder o grau de doutor, uma limitação meramente legal que não tem em conta a avaliação das instituições, e da mudança que urge operar para acompanhar os restantes países europeus onde os politécnicos se passaram a designar por “universidades de ciências aplicadas”.

Desta vez, Nuno Mangas avançou com o nome de “universidades politécnicas”, isto de acordo com o “público” o que, pensamos, não resolveria o assunto do estigma social que critica e bem.

A dúvida é, justamente, saber se o estigma advém do conceito de instituto ou do conceito de politécnico. Creio que deriva do segundo. Por isso, a mudança para “universidades politécnicas” puco resolve. Pelo contrário, menorizaria, ainda mais, as universidades adjetivadas com esse nome associado a escolas profissionais.

De qualquer forma, muitos parabéns a Nuno Mangas por esta entrada e visibilidade, já notada, da voz dos politécnicos.

Em frente é que é Leiria! Quem sabe se os santos que na sua terra não fazem milagres os poderão fazer quando acedem a posições mais translocais, como é o caso da presidência do CCISP.

Parabéns, Nuno. Parabéns, IPLeiria. Parabéns, Região de Leiria. Parabéns, Samuel Silva. Parabéns, Jornal “O Público”.

«Não há longe nem distância.» (Richard Bach, Fernão Capelo Gaivota). Venceremos!

*Professor Decano do Instituto Politécnico de Leiria
Professor Coordenador Principal ESECS-IPLeiria e CICS.NOVA.IPLeiria

(O autor deste texto escreve segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990)