Opinião

Contagiante e hipnótico

21 fev 2019 00:00

Música | Estávamos no Verão de 2012, e encontrava-me no primeiro mês do estágio no estúdio Sundlaugin (Islândia) - onde era assistente de técnico de som -, e embora já bem consciente da regular enorme qualidade dos músicos que por ali paravam para gravar

Fiz uma das mais interessantes descobertas quando o baixista islandês Skúli Sverrisson aparece para participar na gravação de um álbum.

Poderia perfeitamente falar desse mesmo álbum hoje, um belíssimo trabalho dos músicos Hilmar Jensson, Jim Black e Chris Speed (projecto AlasNoAxis, de resto, formação de que Skúli também faz parte), mas preferia partilhar convosco as composições deste fascinante e extremamente ecléctico compositor e músico multifacetado que é Skúli Sverrisson.

Na Islândia, será porventura mais conhecido pelo seu trabalho no projecto nova-iorquino Blonde Redhead e enquanto director musical de Laurie Anderson.

É também director criativo e fundador do fantástico espaço de promoção cultural que arrancou em 2013 - actualmente com curadoria de artistas islandeses -, de nome Mengi, em Reykjavík. Hoje com 52 anos de idade, Skúli tem uma vasta discografia e a isso ajudará certamente a sua aparente enorme disponibilidade para colaborar criativamente com diferentes projectos. Assim, escrevo-vos hoje sobre Sería, um projecto musical que só podia ser deveras ambicioso pelos músicos que reúne e que nos trouxe dois álbuns [Sería (2006) e Sería II (2009)].

Sería, o primeiro dos dois a conhecer a luz do dia, venceu desde logo o conceituado prémio de melhor álbum desse ano de 2006 nos Icelandic Music Awards. Para quem ainda não o escutou, imaginem um contagiante e hipnótico emaranhado de canções, lideradas pelas cordas do baixo e guitarra de Skúli e das guitarras de Amadeo Pace, e estas por sua vez adornadas pelas cordas de Eyvind Kang e de Hildur Gudnadottir, e ainda pelos teclados de Anthony Burr.

Nos poemas cantados, temos, em três dos temas, a esposa do próprio Skúli Sverrisson, sendo ela alguém que dispensa apresentações: a brilhante e inigualável Ólöf Arnalds; e num outro tema poderemos escutar a voz da sua fiel companheira de trabalho, a norte-americana Laurie Anderson.

Com instintos do passado de Skúli quer no rock quer no jazz, Sería é um álbum que tem tanto do experimentalismo de Brian Eno como do minimalismo na repetição de Philip Glass. Deste trabalho ressaltam claras intenções de prender o ouvinte no plano meramente emocional mas nele não se descura, no entanto, a acuidade técnica do virtuosismo notório dos seus participantes.

Uma obra a não perder!

*Compositor