Opinião

Cinema | O X assinala o lugar

6 abr 2021 11:52

Há cerca de um ano que as portas dos espaços culturais receberam uma primeira ordem de encerramento

Como em tantas outras situações e ocasiões que esta pandemia veio colocar a nu e potenciar, não estávamos preparados.

Na realidade, é possível que ainda não estejamos. Indubitavelmente, esta forma de viver que nos tolhe do contacto social (e atira tanta gente para situações precárias e de recurso) é assustadoramente angustiante.

É um exercício no mínimo “interessante” olhar para trás e perceber a quantidade de hábitos que rapidamente se enraizaram, quando ainda há bem pouco pareciam absurdos.

Apesar de toda esta reviravolta de costumes e valores, algo que continuo a ter dificuldade em encaixar é a forma como a cultura do online tomou conta da cultura.

Mesmo em meios mais propensos a estas abordagens, como seja o cinema, continuo a defender (se calhar ao jeito de um velho do Restelo azedo e destinado ao oblívio) que dificilmente uma experiência cinematográfica tem o mesmo impacto que aquela que se vivencia em sala, partilhando o momento e o silêncio (e, certamente, partilhando igualmente o espaço e o ar que se respira) com outros espectadores com um interesse comum.

Tempos houve em que não era preciso defender esta causa e este propósito, de tão óbvio o sentido, mas… os tempos são outros.

O hádoc – Cinema Documental em Leiria, que regressa em abril de 2021 (e se prolonga até junho) vive neste e deste sentimento de cinema enquanto transformação pessoal e social e como espaço de partilha e crescimento. Por isso pomos o pé na porta.

Se a edição de 2020 foi adiada para outubro/novembro, porque era importante que se realizasse num espaço físico, com pessoas presentes, e não no éter; em 2021 arriscamos tudo com um programa que arranca no dia seguinte à data de (re)abertura dos Teatros e Cinemas.

Há uma possibilidade que os (agora omnipresentes) números nos atirem de novo para casa e para o confinamento, mas, se tal não suceder, queremos estar preparados para receber o público e as suas máscaras e as suas soluções de álcool gel.

Com distanciamento físico controlado, horários ajustados, mas… acima de tudo com um programa ambicioso e que (é sempre esse o objetivo) não deixe ninguém indiferente.

A imagem deste ano alude a isso mesmo.

O X marca o lugar. O X que é ao mesmo tempo a informação da 10.ª edição do hádoc, mas é também a referência ao interdito, que tem marcado a nossa vida em tempos de pandemia. O X que é ainda um sinal de cruzamento, de caminhos múltiplos e de opções.

A partir de 20 de abril, às 19:30 horas, no Teatro Miguel Franco, em Leiria, tem início a 10.ª edição do hádoc – Cinema Documental em Leiria. Até já.

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Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990