Opinião

Cinema | Bonded by blood

8 mai 2020 20:00

É inegável que o anos 80 do século passado foram imbuídos uma magia especial.

Não sou, nem aspiro a ser, um estudioso ou analista do tema, pelo que me faltam ferramentas para explicar adequadamente o fenómeno, mas acredito que a relativa estabilidade económica e política (apesar da Guerra Fria) e o desenvolvimento tecnológico acelerado tenham sido fatores importantes (queria evitar ter de reconhecer que a disseminação do capitalismo também tenha tido influência, mas... as coisas são como são).

O que é facto é que, especialmente no que à música concerne, os eighties tem uma personalidade que se demarca dos demais períodos. E, apesar do que possa parecer, não estou para aqui a fazer a apologia da minha adolescência, como acontece mais ou menos frequentemente em discursos saudosistas.

Durante a primeira parte dessa década era ainda um fedelho de fraldas, pelo que as minhas memórias desse período estão longe de serem ideias conscientes e articuladas.

Vem esta introdução a propósito de dois documentários que tive a oportunidade de ver recentemente e que bebem dessa fonte de inspiração e de histórias surpreendentes (muitas ainda por contar) que é a música nos anos 1980.

Deixo aqui alguns comentários relativamente ao primeiro desses filmes, ganhando assim material para a coluna do próximo mês.

Murder In the Front Row (EUA, 2019) vai roubar o título a um verso de uma música de Exodus: “Murder in the front row / Crowd begins to bang / And there's blood upon the stage / Bang your head against the stage / And metal takes its price /
Bonded by blood”.

Poesia pura, portanto...

Bom, mas não é excelência no lirismo o que se esperará, à partida, quando o tema do documentário é o movimento do thrash metal da Bay Area de São Francisco.

Dito desta forma não servirá de grande referência para alguns, mas se falarmos de nomes como Metallica, Slayer ou Megadeth, até o melómano mais desatento seguramente encontrará um ponto de apoio.

Os músicos de bandas como os Exodus (grandes percursores do movimento), Death Angel, Testament, Possessed e várias outras, fazem também parte desta lista de gente que surge no documentário e que conta como contribuiu para o crescimento de um fenómeno de proporções mundiais.

O tal fator eighties que não deixa nunca de surpreender, é como através da troca de cassetes de fita magnética por correspondência, fanzines amadores em papel, altruísmo e entrega de uma série de “atores” que nunca ficarão para a história mas que partilharam lado a lado com os “heróis” as batalhas do momento, se cria um movimento onde antes existia apenas um grupo de adolescentes rebeldes e com sérios problemas familiares, de álcool e drogas.

Baseado no livro de Harald Oimoen e Brian Lew, dois dos “anónimos” que estiveram envolvidos em todo o processo e com realização de Adam Dubin, Murder In The Front Row não é um documentário excecional em termos cinematográficos, mas um interessantíssimo documento de uma época e do estado de espírito de uma geração, que urge ver.

Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990