Opinião

Cinema | 2046: o filme depois de In the Mood for Love

8 mar 2024 10:22

Uma obra-prima cinematográfica que transcende os limites do tempo e do espaço

In The Mood for Love (2000) é, possivelmente, o filme mais aclamado do realizador chinês, Wong Kar Wai. Hoje em dia, é mesmo considerado um dos melhores filmes de sempre, figurando em quinto lugar na lista do Guardian.

E entendo. In The Mood for Love é um dos meus filmes preferidos de sempre e revejo-o imensas vezes, não só pela forma como a narrativa foi construída, mas, também, pela sua estética e cinematografia. Vamos admitir: está brilhante. No entanto, o que algumas pessoas não sabem é que existe uma continuação.

2046 (2004) é uma espécie de seguimento espiritual de In The Mood for Love, e retrata a sequência da vida amorosa da personagem Chow Mo-wan. Ora, Chow Mo-wan (Tony Leung Chiu Wai) é um escritor e jornalista que se aloja no quarto 2046 de um hotel em Hong Kong, no qual ele começa a escrever um romance de ficção científica futurista, mas que lhe traz recordações sobre a sua própria vida amorosa. No seu romance, um comboio misterioso tem um único destino: o ano de 2046, onde os passageiros embarcam em busca das suas memórias perdidas. Trama lançada, o filme teuto-sino-franco-ítalo-honconguês tem na sua narrativa alguns elementos de ficção científica, é falado em mandarim, japonês e cantonês e tem, ainda, canções em espanhol.

Wong Kar Wai é conhecido pela sua habilidade de criar atmosferas profundamente emocionais, e 2046 não é exceção. O filme passa-se em Hong Kong, na década de 1960, mas também flui em diferentes períodos temporais e espaços mentais, criando uma experiência cinematográfica única e imersiva. A cinematografia deslumbrante, repleta de tons de vermelho e dourado, evoca uma sensação de romance nostálgico que permeia toda a narrativa.

No fundo, 2046 é uma teia intricada de histórias interligadas, centradas em torno do protagonista, explorando temas como: o amor não correspondido, a solidão e a natureza efémera do tempo. Admito, no entanto, que não me consegui relacionar tanto com a personagem principal como o fiz em In The Mood for Love. Wong Kar Wai costuma representar o amor de forma muito poética, mas, neste caso, destruiu a minha visão do protagonista, que passa a usar as mulheres como meros objetos que gosta de perseguir, mas dos quais se farta rapidamente. Tudo por causa de um coração partido, o que acaba por cair na mesma história de sempre: as mulheres sendo um passatempo, um adereço. E isto, apesar de tudo, foi um ponto fulcral para mim, que me fez não gostar tanto do filme como imaginaria.

Em última análise, 2046 continua a ser uma obra-prima cinematográfica que transcende os limites do tempo e do espaço, mergulhando o espectador num mundo de melancolia, romance e nostalgia. Mas, para mim, só funcionou visualmente.