Editorial

Cientista sofre 

29 jun 2023 09:34

Os índices de contaminação mantêm-se mais altos no troço do Lis à saída da cidade do que depois da confluência com a ribeira dos Milagres

Será abusivo dizer que de cientista e de louco todos temos um pouco? Cremos que não e já vamos explicar porquê. Quando perguntado à entrevistada desta semana se ainda é difícil fazer ciência em Portugal, Zita Santos foi taxativa: “É muito, muito difícil. O financiamento é pouquíssimo e as carreiras científicas são quase inexistentes”.

A jovem investigadora de Porto de Mós, como muitos outros cientistas portugueses, tinha como solução para escapar à precariedade a ida para o estrangeiro. Em nome do apego à família, resistiu até poder. E não fosse a conquista recente de uma bolsa do Conselho Europeu de Investigação, provavelmente já estaria a preparar as malas para continuar o seu trabalho além-fronteiras.

Não é a única a reclamar uma nova política de emprego científico em Portugal e a revisão do Estatuto de Carreira de Investigação Científica, em vigor há mais de duas décadas. Nos últimos anos deram-se passos positivos neste domínio, mas tudo está praticamente concentrado na Fundação para a Ciência e Tecnologia. E o sector privado, salvo raras excepções, ainda se mantém afastado deste tipo de investimentos.

O que quer dizer que um cientista em Portugal tem mesmo que ter a sua dose de loucura, não só para arriscar em novas descobertas, mas sobretudo porque quando consegue uma bolsa para um projecto a cinco anos, por exemplo, vê-se obrigado a começar a pensar logo onde pode ir buscar novo financiamento para prosseguir a investigação.

A propósito de investigações, esta semana divulgamos os resultados do estudo anual da associação ambientalista Oikos à qualidade da água na bacia hidrográfica do rio Lis. Mais uma vez, as conclusões destacam os pontos negros do costume, que continuam sem solução.

No essencial, os índices de contaminação mantêm-se mais altos no troço do Lis à saída da cidade do que depois da confluência com a ribeira dos Milagres, o que permite concluir, de novo, que os esgotos da cidade continuam a poluir mais do que as suiniculturas.