Opinião
Camaradagem, trabalho de equipa e amor-próprio
O vírus da "campeonite", que contamina crianças e jovens
"Os miúdos estão no desporto para ser formados e não para resolver as frustrações dos pais."
É desta forma que José Carlos Lima, coordenador do Plano Nacional de Ética no Desporto, se refere, na grande entrevista desta semana do JORNAL DE LEIRIA, ao enviesamento que acontece dentro e fora das quatro linhas.
A actividade física e o desporto deveriam promover a camaradagem, o trabalho de equipa, a criatividade, a diversão e o amor-próprio.
Em vez disso, muitas vezes por causa de quem está a treinar da bancada, a situação degenera.
A culpa é de progenitores que não se sabem comportar e que, em linha com boa parte da sociedade actual, acreditam terem mais direitos do que deveres.
Juntemos a isto o vírus da "campeonite", que contamina crianças e jovens, e temos o caldo entornado.
Resolveremos isto apenas com penas e castigos mais gravosos? Dificilmente.
O problema é estrutural e não conjuntural.
Vivemos numa época órfã de valores, uma situação, não raras as vezes, impulsionada por quem bate no peito e clama por mais valores e moral e, depois, na primeira oportunidade falha redondamente e lança gasolina na fogueira.
O Desporto e o modo como nos comportamos em campo é uma metáfora para a vida.
Como diz José Carlos Lima, verificam-se actos de violência apenas em 5% dos mais de 1.200 jogos de futebol que acontecem no território da Associação de Futebol do Porto, a maior do País. Reflictamos nisto.
Ainda a roçar a mesma temática, na edição desta semana, damos conta de que 52% de 450 alunos inquiridos num estudo do Politécnico de Leiria não praticam qualquer exercício físico.
O mesmo documento traz-nos ainda outro número que nos deveria preocupar bastante.
No capítulo da violência, 47% já sofreram de alguma forma de abuso – bullying para quem prefere o termo anglo-saxónico.
Um número impressionante que vem acompanhado por outro igualmente mau: 10,75% dos auscultados já foram alvo de violência no namoro.
Pelo menos uma pessoa em cada dez.
Para terminar, uma nota mais positiva. Na semana passada, a Nazaré apresentou uma interessante estratégia de promoção territorial, que passa por aproveitar a sua identidade única, o surf de ondas gigantes, o turismo e a sustentabilidade para promover aquele território.