Opinião

Brexit

1 jul 2016 00:00

No passado dia 23 de Junho realizou-se o referendo sobre a saída do Reino Unido da União Europeia. Na madrugada do dia 24 foram divulgados os resultados: 51,9% para o Brexit e 48,1 % para a manutenção da Grã- Bretanha na União.

Perante este facto, a questão que se nos coloca é indagar as causas subjacentes e, sobretudo, saber quais as consequências que poderão advir deste resultado, tanto para o Reino Unido como para a Europa. No que concerne ao Reino Unido, e sob o aspecto político, é de salientar que tanto a Escócia como a Irlanda do Norte votaram pela permanência na União Europeia. É assim facilmente constatável que a coesão do Reino Unido treme e poderá estar em causa.

Aliás, o Governo Autónomo da Escócia, para além de um novo referendo para a sua própria independência, prepara-se também para, através do Parlamento, apresentar um veto à saída do Reino Unido da União. Por outro lado, no aspecto económico, a queda da libra, embora conjuntural, é já um facto. Dir-se-á que estas consequências eram previsíveis. O que levou então os cidadãos daquele país a votar maioritariamente a sua saída da União?

O que nos assusta é que tal voto é sobretudo explicado por “maus motivos”: a rejeição do acolhimento e apoio aos refugiados e à própria imigração, a defesa de um nacionalismo exacerbado, que significa uma rejeição absoluta pelo ideal solidário, de entreajuda e cooperação recíproca que, dizem, terá estado na base da fundação da União Europeia.

Não se ignora que o projecto europeu é hoje um projecto falhado, onde impera o domínio dos países mais fortes sobre os mais fracos, do Norte sobre o Sul, dos ricos sobre os pobres. Só que a saída do Reino Unido pode contribuir para piorar ainda mais esta situação. Após o Brexit dificilmente algum país se conseguirá opor ao poder da Alemanha, que já é imenso. Assim, o Brexit terá como corolário quase inevitável a hegemonização, sem concorrência, do domínio germânico em toda a sua latitude e em tudo aquilo que o mesmo significa.

Mas mais: a saída do Reino Unido teve como pano de fundo ideológico e político o nacionalismo e a xenofobia que se traduziu num populismo anti imigração. Foi sobretudo defendida, embora não exclusivamente, pela direita e pela extrema direita. O reflexo que tudo isto tem nos outros países é – pode ser – assustador.

A extrema direita prolifera e faz-nos temer pelo futuro desta Europa que queremos inclusiva, solidária, das pessoas e para as pessoas. Mas os países fundadores da UE (Alemanha, França, Itália, Holanda, Bélgica e Luxemburgo) já se reuniram e, em apenas duas horas, concluíram que o processo da saída deverá ser concluído o mais rapidamente possível.

Esquecem-se, contudo, do efeito dominó que o Brexit poderá causar, inviabilizando no curto prazo a reconstrução de uma nova Europa dos Povos e não das oligarquias.