Opinião
As incoerências de existir em 2025
Conquistámos a Educação como um direito quase universal, mas falha-nos, cada vez mais, a consciência coletiva
É impossível não me sentir exausta com os contrastes deste mundo. A cada scroll nas redes sociais, ou manchete da comunicação social, cresce o meu desconforto com as incoerências que normalizamos diariamente. Questiono-me frequentemente se não seria melhor seguir o ditado “a ignorância é uma bênção”.
Vivemos num mundo onde o comportamento de uma celebridade é escrutinado durante horas pelos media, e em conversas de café, enquanto guerras que matam dezenas de pessoas por dia, a maioria crianças, são varridas para debaixo do tapete. Vivemos num mundo onde a Ciência nos diz que temos menos de cinco anos para evitar um colapso climático, mas nenhum país age de acordo com a emergência que se requer.
Pelo contrário, multiplicam-se os políticos, diplomados em Ciência na tão conhecida “Universidade da Vida”, que negam a crise climática com convicção. Somos um país onde a criminalidade diminuiu nos últimos 25 anos, mas as menções a crimes nos media mais que duplicaram. Onde se diz proteger as crianças com “unhas e dentes”, mas se falha no essencial: garantir condições humanas dignas às suas famílias (e agora também as instrumentalizamos como arma política em plena Assembleia).
Conquistámos a Educação como um direito quase universal, mas falha-nos, cada vez mais, a consciência coletiva. Vivemos colados a ecrãs, prontos a perguntar tudo ao ChatGPT. Passamos a vida a criticar os nossos representantes e as nossas condições de vida, mas a palavra “ativista” ainda mete medo ao susto, e será sempre mais fácil deixar um comentário de ódio em notícias que falam sobre jovens que não se conformam com o sistema em que vivemos.
E com este desabafo, não quero dizer que estou imune a estas contradições. Longe disso. Não há uma semana em que não me questione se sou uma fraude por não conseguir viver sempre de acordo com os valores que defendo. Mas talvez aí esteja a resposta ao velho ditado da ignorância como bênção. Não saber, ou fingir não saber, pode ser mais cómodo. Mas é também o motor de muitas destas incoerências que criámos para a nossa existência.
Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990