Opinião

Artes visuais | Girl power na pousada

13 jun 2025 08:21

O universo criativo de cada uma das três artistas parecer estar alicerçado sobre o mesmo: a comédia num tom infantil

Uma boa ideia da 10ª edição do festival A Porta foi trazer a Casa Plástica de volta prá antiga pousada da juventude, no Terreiro. A ocupação foi confiada a um trio feminino de jovens artistas promissoras. São elas Alexandra Cuecas, da banda Unsafe Space Garden, Carlos Roxo, artista multidisciplinar e Neuza Matias, pintora. Não se conheciam mas aceitaram trabalhar juntas e embora se foquem em áreas de investigação bastante distintas, a simbiose parece ter acontecido.

Pode ter ajudado, o universo criativo de cada uma das três artistas, parecer estar alicerçado sobre o mesmo: a comédia num tom infantil. E tão comum é este terreno, o common ground se quiserem, que salvo raras exceções, se distingue a mão de uma ou de outra autora.

Ocuparam quase por completo a grande área que lhes foi entregue e o trabalho em conjunto resultou num extenso menu de disciplinas. Temos o edifício repleto de música, instalações, esculturas e pinturas executadas directamente nas paredes e chão, das salas e corredores.

Fui à inauguração com a Tina e com a Ana Sofia porque desconfiei que iam gostar e os três divertimo-nos. Numa das salas ocupadas, a Ana passou por entre um emaranhado de fios de lã para comer um rebuçado e numa outra sala que convidava o público a deixar um registo, teve oportunidade de participar. Escreveu na moldura da janela num lettering tímido, um pequeno “U Go Girls”, e eu e a Tina rimos.

Por entre os desenhos e as centenas de palavras escritas, alguém escreveu “as pessoas trans têm direitos” e outro alguém sublinhou a palavra “pessoas” e riscou o “trans”, ficando a ler-se a frase “as pessoas têm direitos”.

Acrescente-se aos dispositivos artísticos utilizados pelas autoras, um extra, utilizada pelo público: poesia gráfica.