Opinião

Ai, ai, Escola…

22 jan 2016 00:00

A Escola Pública centra o seu ensino, exclusivamente, (sejamos verdadeiros) na componente técnico-científica desprezando as componentes afetiva, social e moral

Não sei explicar o porquê de, ao observar os comportamentos dos candidatos à Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa - “O comentador” e Vitorino Silva - “O Tino de Rãs”, não me sair do pensamento a seguinte questão: como se nos revelariam hoje estes candidatos se à nascença tivessem sido trocados, o “berço” e o contexto social em que cada um cresceu e se tornou adulto?

Este cenário leva-me, de imediato, a refletir sobre a eterna falta de eficácia da Escola Pública no cumprimento de uma das suas mais nobres funções - a de contrariar, através da educação que ministra, que se eternize, ao longo de gerações, em centenas de famílias portuguesas, no século XXI, uma inadmissível e inadequada forma de estar e ser cidadão. Inadmissível forma de estar e ser cidadão que tenho observado em pessoas só com o 4.º ano de escolaridade, mas também em “graduados” muito especializados em algo.

Esta situação sempre me causou, enquanto professora da Escola Pública, um enorme desconforto e tem-me provocado um desassossego permanente. Tenho por isso procurado compreender as causas de semelhante ineficácia da Escola e dos seus ensinos. Ao que vou estudando e lendo, juntei o que observo no meu trabalho de quase quarenta anos com alunos e encontrei, entre muitas, uma possível explicação!

Esta, reside no facto de a Escola Pública centrar o seu ensino, exclusivamente, (sejamos verdadeiros) na componente técnico-científica desprezando as componentes afetiva, social e moral. Por exemplo, os valores que nos humanizam não são objeto de ensino e de aprendizagem na escola e o mesmo se passa com o ensino e com a aprendizagem da Civilidade e da Cidadania.

Como acessórios não avaliáveis, em testes, em provas aferidas ou em exames, os conhecimentos nestas áreas, modeladores de comportamentos, entram ou não nas aulas consoante a boa ou má educação, a melhor ou a pior formação que cada aluno já transporta consigo.

Ora, como esta parte não tangível da personalidade é imprescindível para que qualquer um “aprenda a ser” “aprenda a conhecer” “aprenda a fazer” e “aprenda a viver com os outros”, é previsível que numa escola dela amputada, a maioria seja obrigada, para nela permanecer, a fingir que está a aprender o que não lhe é ensinado!

Muitos, os incapazes de tal fingimento, por vontade própria ou alheia, desistem e abandonam as salas de aula. Marcelo Rebelo de Sousa e Vitorino Silva são ambos, como todos nós, produtos dessa Escola. Será que não identificamos sinais desta incompletude escolar na intermitência das verdades proferidas por um e na exigência reclamada pelo outro de um imerecido reconhecimento? Eu, eu penso que sim! Ai, ai, escola… Assim, a quem servirás?

*Professora