Opinião

A sondagem do nosso descontentamento

17 jun 2023 16:27

Parece que Portugal está maduro para o avanço do populismo, a não ser que o país político se entenda em fazer reformas estruturais

O semanário Expresso de 9 de Junho passado apresentou os resultados de uma sondagem, encomendada por aquele jornal e pelo canal de televisão SIC ao ICS/ISCTE, inquirindo sobre o grau de satisfação dos portugueses relativamente à sua vida, sob os mais diversos critérios – saúde, educação, habitação, justiça, ambiente e outras políticas públicas, bem como, sobre o nível de confiança da população nas nossas instituições e, ainda, recolhendo a opinião dos portugueses relativamente a algumas reformas políticas de que se vem falando.

Olhando para a ficha técnica da sondagem e para a qualidade e curriculum das instituições que a realizam, temos de confiar nas conclusões apresentadas que, na minha opinião, são muito preocupantes para não dizer aterradoras, tanto mais que são opiniões transversais a toda a sociedade, naturalmente com mais ênfase nas classes com menores rendimentos e/ou que vivem fora dos eixos de Lisboa e Porto.

Não existe satisfação positiva em nenhum aspecto da vida em Portugal. Em termos médios, 79% dos portugueses sentem-se “pouco ou nada satisfeitos” com a qualidade de vida em geral.

Relativamente à “atenção que as políticas públicas dão aos problemas de diferentes grupos sociais” o panorama é desolador, excepto no que se refere à classe dos “mais ricos” em que classificam como “demasiada” a atenção que as políticas públicas lhes dedicam, contrariamente aos “mais pobres” que essas políticas são consideradas “insuficientes” por 86% dos inquiridos.

Relativamente à” confiança nas instituições” é curioso ver que a Polícia, as Forças Armadas, as Juntas de Freguesia, o Presidente da República e as Câmaras Municipais merecem um nível de confiança claramente positivo e é muito preocupante que desconfiem significativamente dos Partidos Políticos, do Governo, do Parlamento, da Igreja Católica, da Comunicação Social e dos Tribunais.

A julgar por esta sondagem, parece que Portugal está maduro para o avanço do populismo, a não ser que o país político se entenda em fazer reformas estruturais, combatendo as desigualdades sociais, a desigualdade de rendimentos, as assimetrias regionais e promovendo a descentralização do poder e das decisões que afectam as populações e reformar o sistema político de modo que os deputados representem efectivamente as regiões onde foram eleitos.

Se a classe política democrática e as suas instituições continuarem mais interessados em travar “Guerras de Alecrim e Manjerona” que se entenderem em termos de uma estratégia ganhadora para o País e, consequentemente, para a melhoria do bem-estar das populações estarão a abrir a capoeira às raposas matreiras populistas que prometem soluções fáceis para problemas complexos.

Esperemos que não acompanhemos a regressão democrática vigente em vários países do mundo.