Opinião

A probabilidade do improvável…

13 nov 2025 08:00

Socorro. Perdi o meu pequenino Pato Ma Reco

Dona pata exibia, orgulhosamente, os filhotes nascidos havia pouco mais de uma semana.

Abria as asas para os abrigar, bicava-os para os estimular, empurrava-os para os fazer movimentar e acarinhava-os quando sentia que era disso que precisavam.

Um dia, a chuva violenta e inesperada alagou o curso de água, até aí tranquilo.

De um momento para o outro, instalou-se o caos, com as várias famílias de patos a procurar os seus e a encaminhá-los daquele mar de água para terra firme.

Já resguardados do perigo, dona pata reuniu a sua prole para se certificar de que nenhuma das suas sete crianças tinha desaparecido.

Eis, então, que um grito lancinante de uma mãe desesperada ecoou por ali afora.

- Socorro. Perdi o meu pequenino Pato Ma Reco.

Alvoroçados, os patos e patas adultos reuniram-se e partiram margens abaixo, margens acima, numa busca incessante pelo patito desaparecido. Não muito longe dali uns olhos pequenitos, numa cabecita de penas claritas, abriram-se dando conta, bem à sua frente, de uns outros esféricos e gelatinosos que o olhavam com surpresa e de uma boca colada ao recipiente transparente onde se abrigara o patito.

De vez em quando, os olhos esféricos, gelatinosos e curiosos e a boca pegajosa, abandonavam, por poucos segundos, o abrigo em que estava o patito, regressando de imediato, para colar a sua boca, em jeito de vácuo e manter a avezita no lugar seguro em que se encontrava.

Admirado, o patito olhou para a parede de plástico transparente que adotara como embarcação e viu, por baixo de si e à sua volta, um espelho brilhante de escamas heterogéneas que nadavam contra a corrente.

Percebeu. Havia, sob si e à sua volta, uma força que lutava para evitar um desfecho trágico. Havia, sob si e à sua volta, uma união que formava uma força poderosa que o mantinha vivo.

O tal peixe de olhar gelatinoso, ao mesmo tempo que parecia dirigir as operações, também o distraía, fazendo palhaçadas com os olhos e movimentando a boca de forma engraçada como fazem as pessoas perante os bebés quando os tentam distrair de algo que os incomoda.

Numa impulsão resultante daquela união que existia sob si e à sua volta, o recipiente foi lançado para as margens, onde aterrou suavemente.

Durante muitos dias, e já com o rio mais calmo, junto da sua família, o patito mergulhava o pescoço, tentando encontrar quem lhe evitara a morte.

Um dia, manteve-se imerso mais tempo do que habitual, num momento de apneia demasiado perigoso.

Um olhar estrábico, esférico e gelatinoso temendo que, de novo, o patito fosse engolido por aquelas águas, apareceu, trazendo consigo os outros peixes salvadores.

Só que, desta vez, os olhos pequenitos, sob a água, sorriram e a boca grande daquele peixe de olhos gelatinosos fez o mesmo.

E, é esta, afinal, a história da probabilidade improvável da amizade verdadeira do pequenino Pato Ma Reco e do peixe de olhar estrábico, esférico e pegajoso.