Opinião

A menos

10 jun 2023 10:22

Claro que educar e ensinar tocam-se mutuamente, mas e o sistema bancário? Esse não se educa, ensina-se. Devia ensinar-se!

Consciência. Falta-nos. Ao mesmo tempo, há tanto conhecimento. Mas consciência e conhecimento são muito diferentes. Pensemos num jovem a atingir a maioridade. Conhece, mas pouco ou nada “sabe” do sistema bancário, e de um dia para o outro torna-se o único responsável pela sua conta bancária.

Para educar uma criança é preciso uma aldeia, diz, bem, o provérbio africano. Na escola ensina-se, não se educa. Isso é responsabilidade dos pais (ou educadores). Claro que educar e ensinar tocam-se mutuamente, mas e o sistema bancário? Esse não se educa, ensina-se. Devia ensinar-se!

Nos Estados Unidos, todos o conhecem, muito bem, porque a sua estrutura societária a isso obriga. A serem responsáveis pelas suas economias desde cedo. Não há cuidados de saúde gratuitos. Não há escolas gratuitas. Não há reformas gratuitas. E também há impostos altos. Mas são gastos em coisas diferentes das nossas.

Lá, tudo tem que ser custeado por cada indivíduo, paulatinamente ao longo das suas vidas, cêntimo por cêntimo, através de seguros ou empréstimos bancários, tudo aquilo que, cá, tomamos por garantido. Porque o é. E não, o valor das propinas não cobre o custo que um aluno do ensino superior tem para o país, apenas suporta uma parte do grande investimento que o país nele faz, na expectativa do retorno para a economia nacional que depois vai gerar.

E também não, as antigas taxas moderadoras estavam longe de custear uma consulta ou um exame médico. Serviam para moderar, como a própria palavra diz, o uso exagerado, ou abusivo, dos serviços de saúde (ainda que na prática o impedisse sobretudo àqueles de menor poder económico, já de si habitualmente mais necessitados destes cuidados).

O modelo americano dá consciência económica ao seu cidadão. O que a nós nos falta. Consciência do custo dos serviços essenciais, que “temos por adquiridos”.

Falei-vos já das virtudes do nosso sistema nacional de saúde gratuito. Falta-nos a consciência dos custos que tem para a sociedade, para cada um de nós. Rastrear várias doenças, prevenir tantas outras, curar ainda mais. Tudo isto tem custos. Elevados. Que todos suportamos. Mas desconhecemos. Se deles tivéssemos noção, não só os elevados custos para tratar doenças, mas mais ainda as enormes poupanças, a vários níveis, se melhor as preveníssemos, talvez o usássemos melhor.

Para garantir uma melhor utilização dos seus recursos, que são limitados. Para bem de todos. Porque custa a todos. Mas isso não se ensina. Educa-se. E para isso é preciso uma aldeia.