Opinião

A Balada dos 20

3 abr 2016 00:00

Um amigo das letras chamado José Régio, que muito escreveu e poetizou, queixou-se um dia num poema intitulado de Cântico Negro, dos caminhos que lhe tracejavam mas que ele não queria calcar.

Nestes dialetos de expressão há uma coisa muito bonita que é a de se ficar hirto e não se ganhar rugas com o tempo – e por isto posso agora falar-vos de um transtorno que assombra as gentes jovens com a ajuda do meu amigo José.

Esta coisa nauseante que nos deixa mal dispostos, é a bisbilhotice alheia, muito afinadinha, quanto àquilo que a gente anda a aprontar. Espera-se muito que quando o algarismo que principia as nossas idades se transmuta para o 2, a gente saiba prontamente como se ser grande e crescido.

Mas a gente não o sabe, porque ninguém nos ensinou. E, por isso, uma nova década das nossas vidas rebenta com a certeza singular de que tudo é incerto e trémulo. Estamos assustadinhos, claro está, mas quem nos circunda é perito em exigir uma estabilidade com resposta na ponta da língua que não temos.

A verdade é que não sabemos bem como isto se faz, andamos meio à deriva à procura de terra firme que nos segure os pés. Mas mais que isto: queremos encontrá-la sozinhos, porque só assim faz sentido. Desta feita, mais não posso fazer do que acenar com a cabeça quando me ponho à escuta das palavras do meu amigo chamado José.

Este amigo esteve em vida muito chateado porque todos se achavam sábios ao ponto de o guiar.