Sociedade

Sol Leiria: fechado há 20 anos e sem solução à vista

8 nov 2019 08:01

A reconversão para escritórios, com zonas de coworking, e serviços ou a manutenção da função comercial são algumas das ideias avançadas pelas pessoas ouvidas pelo jornal. para viabilizar o espaço.

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Proprietários não têm acesso às lojas, mas continuam a pagar o Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI)
Ricardo Graça
Maria Anabela Silva

Foi apresentado como um moderno centro comercial, ao nível do “melhor” que havia no País, com uma localização privilegiada e preços “aliciantes”. De tal forma que, “em pouco tempo”, praticamente todas as lojas ficaram vendidas. Começava aí o calvário de quem investiu no Sol Leiria. O espaço abriu no final de 1997, mas fechou pouco depois, por falta de licença de utilização e de obras que o permitiriam tornar utilizável. Vinte anos depois do fecho, não há solução à vista para viabilização um espaço, “com muitas potencialidades”.

A reconversão do edifício para escritórios, com zonas de coworking, para a instalação de serviços ou até para habitação são algumas das hipóteses apontadas por alguns dos intervenientes no processo ouvidos pelo JORNAL DE LEIRIA. Há também quem acredite na potencialidade do espaço como centro comercial.

Ao longo dos anos, as poucas tentativas para viabilizar o Sol Leiria esbarraram na “falta de consenso” entre os proprietários dos mais de 100 espaços comerciais. Chegou a ser feito um estudo de viabilidade, que apontava a necessidade de alterar o interior do edifício, com o melhoramento das lojas, a criação de salas de conferência e de uma área restauração.

Em cima da mesa esteve também a constituição de uma Sociedade Anónima, liderada pela Lena Engenharia e Construções, proprietária de algumas lojas, que faria as obras necessárias à reabertura do centro comercial e assumiria a sua gestão. Mas a crise económica e a falta de acordo entre os lojistas inviabilizou a concretização do projecto.

Enquanto não há solução à vista, os proprietários vão acumulando prejuízos. Não conseguem rentabilizar o investimento que fizeram, estão sem acesso aos espaços que compraram e continuam a pagar IMI. “É só prejuízos. A solução seria vender tudo em bloco, pela melhor oferta possível. Já perdi a esperança de recuperar o que aqui investi, que rondou 60 mil euros”, confessa Mário Gaspar, que já não ia ao Sol Leiria há mais de dez anos.

Na semana passada, um cartaz afixado numa das lojas viradas para a Rua Comissão da Iniciativa, dando conta de um pedido de alteração de lojas feito à Câmara, levaram- no à Clínica de Beleza Donzíliza, o único estabelecimento que permanece aberto. Queria saber se havia novidades. “Não, não há”, informaram-no Virgílio e Patrício Gaspar, pai e filho, que ao JORNAL DE LEIRIA explicam se têm “aguentado” ficar no centro comercial devido às “condições excelentes da clínica”, que dispõe de 15 gabinetes de estética, à fidelização de clientes e por acreditarem no “enorme potencial” do Sol Leiria.

“Tem uma localização privilegiada, numa zona que diariamente é frequentada por milhares de pessoas”, defende Patrício Gaspar, que aponta como hipóteses a criação de espaços de coworking , a instalação de serviços, públicos e/ou privados, ou até de actividades criativas. “ É considerado um poço de problemas, mas pode muito bem ser útil novamente à sociedade”, disse o lojista na última sessão de Assembleia Municipal.

Na ocasião, Gonçalo Lopes, presidente da Câmara, frisou que este é “um problema do foro privado, que atinge o interesse público”, cuja resolução implica “um largo consenso” entre os proprietários das lojas. “A Câmara poderá ser parceiro na tentativa de encontrar soluções mas não pode tomar a iniciativa”, alegou o autarca, defendendo que “o modelo de viabilização tem de ser criativo e ajustado evolução à geracional dos centros comerciais”. No entender do autarca, “a área de serviços poderia ter viabilidade”, dando como exemplo o Centro Comercial D. Dinis, onde há lojas que estão a ser reconvertidas para essa valência e que acolhe “pelo menos uma empresa de tecnologia”.

Ressuscitar como centro comercial?

Para o arquitecto José Fava, cuja empresa elaborou o projecto, o problema do Sol Leiria “é exclusivamente de administração financeira”. “Não é um problema de arquitectura nem um erro do programa que sustentou o projecto, que não foi cumprido pelos promotores. Falta uma entidade que consiga o entendimento entre os proprietários”, alega o técnico que acredita na viabilidade do espaço, mesmo para centro comercial.

“Há exemplos de zonas comerciais que 'ressuscitaram', depois da decadência. A localização é excelente e as lojas tinham qualidade”, afirma o arquitecto, para quem o Sol Leiria “tinha tudo para funcionar bem”, se “não fosse a avidez dos promotores”, que “venderam de mais”. “Deviam ter reservado uma percentagem, na ordem dos 30%, para poderem assumir a administração e ter um papel importante na sua gestão”, defende o arquitecto, que considera “um crime’ o abandono” do espaço.

O JORNAL DE LEIRIA contactou o administrador do condomínio, a imobiliária Mediante, cujo representante não quis prestar declarações. Ao que apurámos, desde 2008 que não se realiza qualquer assembleia de condóminos.

 

Processo na Câmara

Pedido de alteração de loja

Em Maio deste ano, entrou na Câmara um pedido de alteração de lojas referente à fracção CB (junto à entrada do Eurosol Residence). Segundo a autarquia, o que está em causa é “a legalização das alterações no lanço de escadas interiores (para mezanino) e paredes interiores, introduzindo instalações sanitárias, já que as actuais no interior do Centro Comercial não estão em funcionamento”. O pedido foi efectuado pela empresa Goldterrasse Imobiliária, SA. A sociedade em causa, que não foi possível contactar, estará ligada ao Grupo NOV (antigo Grupo Lena) e, neste momento, já não é a proprietária da fracção em causa. “A apreciação do pedido encontra-se para despacho superior”, informa a Câmara.