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Sinfónica de Leiria junta música, escultura e vídeo no Ano Novo

26 dez 2020 22:25

Concerto | "A Metamorfose de Orfeu" homenageia o “músico filarmónico”

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João Gaspar
DR
Jacinto Silva Duro

Mesmo com a pandemia, a Banda Sinfónica de Leiria não quis deixar de realizar o seu concerto de Ano Novo, cabendo, desta vez, às filarmónicas da Caranguejeira e das Chãs a organização do espectáculo.

Tradicionalmente, 60 músicos sobem ao palco do Teatro José Lúcio da Silva, em Leiria, para um concerto de celebração do ano que chega, mas, desta vez, haverá apenas 30 executantes, devido às exigências de saúde e segurança, motivadas pela pandemia da Covid-19.

E as mudanças não se ficam por aqui. A Sinfónica de Leiria, agrupamento da Associação de Filarmónicas do Concelho de Leiria (AFCL), também convida todos os anos um maestro de renome, para apresentar o repertório.

Este ano, o pedido foi endereçado ao maestro Jorge Salgueiro, que também é compositor e que trará duas das suas obras musicais. No dia do espectáculo, 2 de Janeiro, porém, haverá mais novidades.

No palco, o público vai poder assistir à união de três formas de expressão artística: a música, a escultura e a imagem.

O resultado será um inédito espectáculo multimédia. O trompista e compositor João Gaspar foi convidado a escrever uma obra musical para a ocasião. Baptizou-a de A Metamorfose de Orfeu.

Mas, à peça, que constitui uma homenagem ao músico filarmónico e ao caminho traçado pela AFCL, o autor sentia que faltava algo.

“Fui convidado a participar neste evento para abrir 2021, um ano de esperança, com a encomenda de uma obra original para Banda Sinfónica que se pretende constituir como estreia absoluta. Pareceu-me que poderíamos fazer que fosse diferente de tudo o que se tem feito e, assim, marcar a cidade enquanto candidata a Capital Europeia da Cultura.”

A Metamorfose de Orfeu vai ter uma outra vida, após o concerto do dia 2de Janeiro. O autor, João Gaspar, 29 anos, músico da Filarmónica das Chãs e da Banda de Música da Força Aérea, está em negociações com uma editora para que a peça seja interpretada internacionalmente. “Criaremos uma estrutura para oferta variada a partir desta cidade”, acredita o compositor

A insatisfação com o resultado levou aos convites ao escultor Abílio Febra e ao cineasta Tiago Gomes. “A música incide sobre o trabalho do escultor e o filme faz o relato”, explica o compositor, adiantando que a obra musical vai além do erudito e funciona como se fosse uma “banda sonora” para o trabalho de Febra e Gomes.

A obra, que será interpretada por uma formação onde apenas os melhores músicos, escolhidos pelos maestros das 11 bandas que fazem parte da AFCL, têm lugar, foi inspirada na figura mítica do herói grego Orfeu, divindade da música da Antiguidade Clássica.

Explica o compositor que a peça musical está estruturada em duas grandes partes fundamentais, a primeira em Ré menor e a segunda em Fá maior, com 87 compassos cada.

“O número 87 corresponde ao número de poemas que inclui a obra Hinos Órficos, atribuída a Orfeu. A estrutura hexamétrica dos poemas é impressa na primeira grande parte da composição sobre compassos de seis tempos (três por dois), organizados em frases de seis compassos”, refere João Gaspar.

A Metamorfose de Orfeu configura, ainda, sobre a figura do número três, uma estrutura tripartida, numa representação objectiva do passado, presente e futuro das bandas filarmónicas.

É também uma alusão à resiliência e cooperação entre as Direcções das bandas que se relacionam para criar um núcleo filarmónico em Leiria que possa trazer um futuro promissor.

“O episódio do passado descreve o processo de exploração da pedra [matéria-prima da construção da Antiguidade Clássica], personificada na dramática libertação do herói da natureza; do solo. O capítulo seguinte descreve o processo criativo de construção e escultura do herói, a metamorfose e transformação do bloco de pedra. Por fim, é o episódio de contemplação do herói, do produto final, da escultura.”

Orfeu liberta-se da pedra e ganha forma e vida, pela escultura.

Arrancada à matéria-prima primordial pelas mãos de Abílio Febra, a peça estará patente no foyer do Teatro José Lúcio da Silva, para apreciação do público.

“Acredito que haverá uma dupla perspectiva sobre a escultura, antes e depois do concerto”, entende o compositor.

O material para a escultura foi oferecido pela Filstone – Comércio de Rochas, sediada em Fátima,e João Gaspar aproveitou mesmo para captar e utilizar alguns dos sons da pedreira de onde a pedra foi extraída, na sua obra.

Os bilhetes para o concerto estão disponíveis na bilheteira do Teatro José Lúcio da Silva.