Economia

Paulo Lopes tem dois amores, que até são (quase) iguais

4 dez 2022 18:30

O interesse por bicicletas e motos levou a que se tornasse num mestre do restauro

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Paulo Lopes afirma que público procura designs diferentes nas bicicletas
Jacinto Silva Duro
Jacinto Silva Duro

Paulo Lopes tem pelo menos duas paixões na vida que não são segredo para ninguém.

É um aficionado de bicicletas antigas e um apreciador de motos Yamaha, modelo DT. Na verdade, gosta tanto destes veículos de duas rodas que, sempre que tem um minuto livre, após o trabalho, na empresa PLA Peças, em Leiria, que também serve de atelier de restauro, e ao fim-de-semana, dedica-se a reparar e a restaurá-las.

Em casa, o espaço livre está preenchido pelas suas bicicletas.

O coração já bateu forte e rápido pelas pasteleiras, mas, agora, a atenção voltou-se para uma paixão de infância que muitos tiveram e que fariam as delícias das crianças e jovens do final dos anos 80 e início dos 90 do século XX, que assistiram aos filmes ET ou The Goonies.

Falamos, é claro, das bicicletas da marca Chopper e dos seus clones construídos em Portugal.

Havia-as em vermelho, em laranja e profusamente decoradas com elementos cromados. Mas as características que as definiam, além de um guiador alto, a lembrar uma moto chopper norte-americana, eram o pneu grande atrás, o pneu pequeno à frente e a manete das velocidades que parecia tirada de uma nave espacial, estrategicamente, colocada no quadro no meio das pernas do ciclista.

Ter uma chopper era um sinal de status. Era sinal de que se era um dos miúdos fixes da rua, do beco ou da aldeia.

“É um dos meus hobbies”

“Sempre gostei de motos e de bicicletas e isto é um dos meus hobbies. Neste momento, compro bicicletas clássicas a particulares, encontro muitas I, e reparo-as. As partes que eu não consigo, mando restaurar, outras peças compro na internet. Mando cromar.... É conforme a necessidade”, conta.

É uma maneira de passar o tempo que acaba por ser vantajosa para outros que, tal como Paulo Lopes, sofrem de amor por estes veículos. É que a casa onde reside tem um espaço limitado e, desde há alguns anos, que começou a restaurar para vender.

“Tenho motos e bicicletas na minha colecção que não vendo, uma delas, uma Philips vale cerca de 1500 euros. São apenas para o meu desfrute. Mas quando vejo algo com um preço, compro e vou trabalhando até conseguir restaurar”, explica, com as mãos pousadas no selim inconfundível de uma bicicleta chopper.

É possível encontrar as versões nacionais, fabricadas sob licença, a preços que variam entre os cento e muitos e 200 euros, muito danificadas. Quando reparadas e restauradas, podem chegar a preços de 500 euros ou mais.

Aquela que Paulo Lopes segura é vermelha, cromada e irrepreensivelmente restaurada, com os autocolantes originais da antiga fábrica Órbita, sediada em Águeda, marca portuguesa declarada insolvente em 2020, apesar de vender para todo o mundo.

Esta bicicleta, especificamente, custa 480 euros. “

Tem um selector de três velocidades, no meio do quadro e é dos anos 70/80”, descreve.

Quando tinha dez ou 12 anos, deu ao pedal numa semelhante que não era vermelha, mas laranja. Talvez por ela ter sido uma grande companheira de aventuras, lhe tenha ficado o amor por elas. Entretanto, já reparou tantas bicicletas que perdeu a conta ao número.

“Agora já estou a trabalhar em pasteleiras clássicas. Cansei-me. Prefiro as chopper e o público também se cansou das pasteleiras. Agora querem coisas com um design diferente.” E as chopper são um exemplo apurado disso mesmo, com uma roda 20'' atrás e uma 16'' à frente, que lhes dá aquele ar característico de low rider, numa estrada direita em pelo deserto na América do Norte.

Paulo lamenta que haja poucos eventos onde levar as suas “meninas”, especialmente agora que o encontro de bicicletas antigas na Burinhosa, no concelho de Alcobaça, deixou de ser realizado.

Nem todas as suas bicicletas são reparadas para parecerem novas. Algumas mantêm o aspecto usado, para captar a beleza que essa patine lhes dá.

Foram anos e anos de utilização dedicada aos seus donos. São verdadeiras marcas de beleza.

“Tenho em mãos duas chopper da marca Chopper original para restaurar, mas já têm como destino os meus sobrinhos. Essas não vendo, mas poderiam valer cerca de 700 euros”, conta, com orgulho.

“Quando era miúdo, custavam dez ou 11 contos.”

Ainda hoje, enferrujadas e a precisar de muito carinho, não se conseguem adquirir por menos de 300 euros. A maior parte das pessoas compra-as agora porque é uma recordação de quando eram mais pequenos.

“Provavelmente, muitos não irão andar nelas. Ficarão para colecção em exposição”, explica.

“Quem tinha uma motinha destas era alguém que tinha uma certa posição social”

Outra das suas paixões, são as motos Yamaha DT 50. Uma moto igualmente clássica e, tal como as chopper, um dos sinais imediatos de status, não já de crianças, mas de adolescentes no ensino secundário.

De certo modo, evoluía-se de uma para a outra, à medida que se deixava a infância e se entrava nos anos de jovem, já quase adulto. Entre os amantes dos modelos, há mesmo quem faça a distinção entre aqueles que estão equipados com travão de disco e os que ainda aplicam travagem com tambor.

“As de 1997 ou de 1998, já traziam travão de disco à frente. É outra mota. É outra travagem e comportamento”, garante o restaurador.

À sua frente, está um exemplar, que, explica, foi vendida a um emigrante na Suíça, natural da Marinha das Ondas (Figueira da Foz), a quem a saudade falou mais alto ao coração. Vale 2800 euros.

“Quando vejo um quadro disponível, umas jantes ou o que quer que seja, negoceio e compro. Tenho muito material adquirido no OLX ou no Custo Justo, mas noto que os preços estão a aumentar, embora tenha sido uma mota que se vendeu muito nos anos 70, 80 e 90.

Muitas eram roubadas e desapareciam para sempre. Quem tinha uma motinha destas era alguém que tinha uma certa posição social”, resume Paulo Lopes.

Há trabalhos específicos, como a cromagem ou a instalação de novos raios e reparação das jantes que dá a especialistas. Guarda para si as pinturas, limpezas, sistema eléctrico, montagem final e afinação do motor.

“Levou estofos novos, os manómetros foram limpos, pintados e reparados, a embraiagem também foi trocada, troquei as tampas do motor e mandei zincar tudo. Só os autocolantes custam 35 euros! Agora, pega logo à primeira. Se eu facturasse horas e não trabalhasse por gosto nestas motos e bicicletas, o preço pago não chegaria para cobrir o trabalho”, afirma.

Quem estiver interessado em conhecer melhor o trabalho de Paulo Lopes, pode contactá-lo na PLA Peças, em Leiria.