Saúde

Paliativos: cuidados que tornam a morte menos dolorosa

20 out 2022 17:46

Centro Hospitalar de Leiria organiza conferência onde as emoções estiveram ao rubro

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Muitas emoções, saudades, tristeza, mas também muita força, conforto e alegria marcaram a conferência organizada pelo serviço de Cuidados Paliativos do Centro Hospitalar de Leiria, que decorreu esta manhã no auditório da Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Politécnico de Leiria.

 

Dedicada ao tema Curar corações e comunidades: vamos falar sobre Cuidados Paliativos?, a mensagem passada foi a qualidade de vida que é proporcionada aos doentes em fim de vida e o conforto e acompanhamento que também é disponibilizado aos cuidadores.

 

Ana João Carvalho, médica dos cuidados paliativos do hospital de Leiria, adianta que o objectivo é “aliviar” o sofrimento, através de um trabalho multidisciplinar”, onde todos têm um papel importante, desde a assistente operacional, ao padre ou médico, entre tantos outros.

 

Lendo uma carta de uma cuidadora, Alexandra Carvalheiro, psicóloga do serviço, citou que os “cuidados paliativos não são como morrer mas como chegar até lá”, sobretudo, “com humanidade”.

 

“Somos testemunhas de actos de grandeza de amor, que nos fazem reflectir sobre as nossas escolhas e nos levam a crescer como pessoas na relação com os outros. As mensagens de gratidão dos utentes e familiares são bálsamos reguladores do nosso bem-estar psicológico”, assume Alexandra Carvalheiro.

 

Leonel Rodrigues e Micael Dias testemunharam o apoio que tiveram de um “serviço de excelência” até ao último fôlego das suas companheiras.

 

“É um acompanhamento fantástico. Humanismo. Excelência. Só posso agradecer a toda a equipa”, destacou Leonel Rodrigues.

 

Micael Dias reforçou com o “suporte incrível” que dão à pessoa, que sente que “não está sozinha”. “Não é só medicamentos. Há a parte humana, nem que seja para uma conversa. Isso é espectacular. É um serviço nobre e de uma grandeza enorme. Alem dos cuidados que dão, é oferecer qualidade de vida ao doente, mas também à família”, acrescentou.

 

Ausente por motivos de força maior, Catarina Faria, directora do serviço, foi elogiada por toda a equipa, que lhe prestou uma homenagem, distinção a que tiveram também direito Hélder Roque, ex-presidente do Conselho de Administração do CHL que esteve no arranque dos cuidados paliativos, e o actual dirigente, Licínio de Carvalho, que tem apoiado o serviço.

 

Manuel Luís Capelas, professor na Universidade Católica de Lisboa e doutorado em Ciências da Saúde - Cuidados Paliativos, reconhece a evolução dos cuidados paliativos, mas considera que ainda há um “grande desafio pela frente”, nomeadamente colocar o assunto na ordem do dia.

O também investigador do Observatório Português dos Cuidados Paliativos alerta para a necessidade de “uniformizar a conceptualização dos cuidados paliativos” e garantir a sua existência em vários pontos do país, para que estejam acessíveis ao maior número de utentes.

 

Criar uma linha acessível 24 horas por dia para os cuidados paliativos idêntica ao SNS24, que teve uma ligação exclusiva para a Covid-19, é um dos desafios deixados pelo enfermeiro, que não concebe que os cuidadores não tenham para quem ligar ao fim-de-semana.

 

“Temos uma iniquidade brutal em todo o País. Não é porque moro no sítio A ou B que terei direito ou não aos cuidados paliativos. Somos todos cidadãos. Tem de haver um plano director de cima para que os cuidados paliativos cheguem às pessoas.”

 

Analisar os cuidados é também defendido por Manuel Luís Capelas, para que se possa perceber o que está a ser feito e a verdadeira qualidade do serviço prestado, com vista à sua melhoria. “Temos de perceber o que andamos a fazer: controlo de sintomas, cuidados fins de vida ou outros cuidados paliativos.”

 

O momento musical proporcionado pelo programa Aqui Contigo, da Sociedade Artística e Musical dos Pousos (SAMP), mostrou a forma como os artistas levam “vida” aos utentes, “mesmo que a morte possa estar perto”.

 

“É um projeto que mexe connosco, todas as semanas. Aprendemos a superação do ser humano e a vida acontece todos os dias”, adianta Raquel Gomes.

 

David Ramy acrescenta que um “projecto que seria de morte é mais de vida e mais incluso do que com os bebés”.

 

A actuação contou com a participação de Rebeca Aizic, doente paliativa, que garante que os cuidados paliativos são “vida”.

 

Umberto Giancarli, o elemento mais recente da SAMP, lembrou a procura do “mágico” e “belo”.