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Palavra de Honra | Um dos meus pesadelos é que um dia os livros passem a ser impressos com anúncios

15 jan 2023 11:12

António M. Catarino, formador, fotógrafo e escritor

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- Já não há paciência... para a profusão de plataformas de streaming. Não seria muito melhor juntar todas as séries e filmes num único serviço e as grandes empresas, por uma vez que fosse, pensarem nos clientes, em vez de se cingirem ao lucro fácil?

 - Detesto... a publicidade da televisão e da rádio. Um dos meus pesadelos é que um dia os livros passem a ser impressos com anúncios. Tremo ao imaginar a descrição dos benefícios do colchão da marca tal, a interromper uma romântica cena na cama das personagens principais.

 - A ideia...  mais absurda e irrealista por vezes só precisa de tempo para germinar, como a semente que mais tarde se torna numa árvore com 50 metros de altura. Acho que deviam mostrar mais fotos de árvores nas redes sociais, nos telejornais e nos outdoors à beira da autoestrada. Talvez o mundo se transformasse num lugar melhor.

 - Questiono-me se... algum dia os políticos portugueses serão dignos da confiança do povo português; mas também me interrogo se o povo português merecerá melhores políticos do que aqueles que tem.

 - Adoro... fazer zapping através das centenas de canais televisivos. Com um bocadinho de sorte talvez encontre um bom filme ou um documentário interessante. Com muita sorte talvez descubra um inenarrável exemplo de trash tv que nem nos meus sonhos mais selvagens sonhava que pudesse existir.

 - Lembro-me tantas vezes... de quando tinha cabelo. Às vezes até deixo crescer a barba para matar saudades. Não é a mesma coisa, mas haverá algo mais filosófico do que cofiar a barba?

 - Desejo secretamente... que o Além seja um imenso Festival de Música e que esteja a decorrer um concerto do David Bowie no dia em que me finar.

 - Tenho saudades... do tempo em que bastava dizer a alguém que ainda não tinha visto um filme ou aquela série para não ser inclementemente bombardeado com spoilers.

 - O medo que tive... quando se disse que o chocolate poderia acabar até 2050. Salvem os pés de cacau! Salvem o planeta! 

 - Sinto vergonha alheia... quando me apercebo que para muita gente o patriotismo se resume a ver os jogos da seleção portuguesa de futebol, esquecendo que votar, zelar pelo património comum e ter empatia pelo outro são golos que nenhum guarda-redes pode defender.

 - O futuro... é uma utopia, o presente uma distopia e o passado uma pia por onde se escoa lentamente a memória pelo ralo do tempo, a liquefazer-se em esquecimento.

 - Se eu encontrar... uma história na rua, prometo escrevê-la, fotografá-la ou simplesmente contá-la. Citando de memória o Afonso Cruz: não somos feitos de ADN, carne, músculo ou osso, somos feitos de histórias.

 - Prometo... tentar não perder o meu tempo, nem fazer perder o tempo aos outros. Isso é mais fácil de cumprir. Já afastei a promessa de fazer dieta das  minhas resoluções de ano novo - tinha-se tornado uma private joke entre mim e o destino.

 - Tenho orgulho... em ter nascido na cidade de Leiria. Tenho pena de não a visitar tantas vezes quantas gostaria. Até tão breve quanto possível, Leiria!