Viver
Palavra de honra | Somos aquilo que sonhamos e desejamos
Sebastian Garcia, Chef
Já não há paciência... para conversas incómodas, aquelas conversas que nos põem desconfortáveis ou que custam a ouvir. À primeira pergunta ou comentário a malta já começa a levantar a voz, ou até a gritar, por causa de um tema qualquer. Para os que, mesmo no carro, vão com pressa, enquanto os que vão a pé levam o miúdo à escola.
Detesto... as pessoas que invejam quem viaja, quando não fazem ideia do sacrifício que isso implica. Muita coisa fica para trás. Sai-se da zona de conforto. E deixa-se a família, acima de tudo. Podiam antes mandar uma mensagem a perguntar como estás, ou a perguntar se conseguiste trabalho. A vida de um imigrante não é um mar de rosas.
A ideia... é sempre dar o melhor de si, embora nem toda a gente faça o mesmo. Tentar não responder ou reagir da mesma forma que o outro. Manter a calma e responder da melhor maneira possível. As ações também são uma boa forma — mais do que as palavras. Há uma frase muito boa: “palavras sem ações não passam de letras.”
Adoro... fugir para a praia, esteja o tempo bom ou não. Sair da cidade faz sempre bem. O barulho e os carros a darem o ritmo aos humanos que andam a pé. A natureza alivia o stress e limpa a cabeça. Uns mates pela manhã, ou então na praia melhor ainda. Ou uma cerveja.
Lembro-me tantas vezes... da minha mãe dizer: “não deixes um trabalho estável”. A casa e o carro são coisas muito importantes. Depois os filhos vão embora e a casa fica enorme. Eu sempre preferi a mochila e um bom par de sapatilhas. Viajar e só parar de caminhar quando as pernas já não aguentam mais. A casa pode vir depois. Conhecer sítios faz com que depois não se saiba qual é o melhor para viver, ou para ficar velho, quando as pernas já não permitem viajar.
Desejo secretamente... que a Argentina ganhe o Mundial de futebol outra vez. E, em segundo, pode ficar França ou Portugal. Gostava que a final fosse Argentina–Portugal. Também gostava de poder viajar de novo para casa. Comer um bom assado argentino com vinho Malbec e abraçar os meus pais.
Tenho saudades... do cheiro do mar. Da minha gastronomia. Da família. Do Fernet com Coca-Cola. Dos vinhos. Da minha mota e das saídas pelo meio do campo até chegar à praia. Poder ver as baleias. Ou mergulhar e ficar no mar da Patagónia durante horas, a brincar com os leões-marinhos.
O medo que tive... durante grande parte da vida, foi deixar o trabalho que tinha num banco. Na verdade, era mais o medo dos meus pais do que o meu. Foram 13 anos, e nos últimos 6 tentei sair. Estava cómodo, mas vivia stressado. E passei a priorizar a minha saúde. Mas o medo, quando aparece, também é bom, quer dizer que está a chegar uma mudança.
Sinto vergonha alheia... quando um adulto exige respeito ou bons modos, mas são os primeiros a meter-se nas conversas ou a passar à frente na fila do supermercado. Enfim, às vezes as pessoas que deveriam dar o exemplo acabam piores do que um adolescente.
O futuro... que seja menos caótico a nível climático. Que acabem todas estas guerras de uma vez. Que o mundo seja mais seguro. Que os países troquem recursos em vez de se roubarem ou cobrarem milhões por energia e combustível, isto assim nunca vai melhorar.
Se eu encontrar... uma pessoa que está sempre a queixar-se ou a falar de forma negativa, viro de lado e continuo a caminhar. Gosto desse tipo de gente bem longe.
Prometo... nunca deixar de fazer o que amo. Procurar sempre melhorar e aperfeiçoar-me profissionalmente. Fazer do meu trabalho uma escola e estar sempre disposto a aprender.
Tenho orgulho... de tudo o que percorri, larguei, aprendi e conquistei na minha vida. Somos aquilo que sonhamos e desejamos. Tenho orgulho dos meus pais por me ensinarem a importância do trabalho e da responsabilidade. Comecei a trabalhar muito novo, e isso formou a pessoa que sou hoje.
Questiono-me... sempre, quando alguém diz uma idiotice, se tem mesmo cérebro na cabeça ou simplesmente não pensa antes de formar as palavras. Não sei se estão a representar ou se nasceram assim.