Abertura

Já não há quem queira partir pedra para calçada à portuguesa

15 abr 2021 12:00

Com a candidatura da calçada portuguesa a Património Imaterial da UNESCO em andamento, quem trabalha na produção desta pedra debate-se com “enorme” falta de trabalhadores, num momento em que a procura está de novo em crescendo.

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Entre “80 a 90%” dos trabalhadores afectos à produção de pedra de calçada no concelho de Porto de Mós têm mais de 50 anos. Alguns, como Manuel Calvário, estão já reformados
Ricardo Graça
Maria Anabela Silva

O bater do martelo na pedra já lhe está entranhado no corpo. Manuel Calvário sabe de cor o jeito que é preciso dar para, em poucos segundos, fazer o cubo que, somado a tantos outros, irá formar o rendilhado de calçada que dá beleza às ruas das cidades e vilas de Portugal e que está espalhada um pouco por todo o mundo, em espaços públicos, casas ou palácios.

Manuel leva já quase 57 anos dedicados à produção de pedra de calçada, nomeadamente da preta, no único local do mundo onde esta é extraída, em Alqueidão da Serra, no concelho de Porto de Mós. Ao longo dos anos, assistiu a muitos “altos e baixos” no sector. Da “loucura” que foi a construção da Expo, que “escoava tudo o que houvesse”, à crise do final da primeira década do século XXI, até ao momento actual em que sector está de novo em alta.

“Mais fizesse, mais vendia”, assume Aníbal Vieira, proprietário da Calcipredios, empresa de Alqueidão da Serra que, à semelhança de “todo o sector”, se debate com uma “enorme” falta de mão-de-obra.

A situação é, de tal forma grave, que Sérgio Saragoça, proprietário de várias explorações em Alqueidão da Serra e no Planalto de Santo António, onde existe um outro núcleo importante de pedreiras de calçada, antevê que, “dentro de 15 a 20 anos não vai haver matéria-prima”.

O alerta surge num momento em que está em curso o processo que pretende elevar a calçada portuguesa a Património Imaterial da Humanidade da UNESCO. Um primeiro passo foi dado em Março, com a apresentação da candidatura da arte e saber-fazer da calçada ao inventário nacional do património cultural imaterial, com o objectivo de promover e valorizar a calçada e os calceteiros e de salvaguardar um saber que se encontra “em vias de extinção”.

“De que vale termos mais calceteiros, se não tivermos matéria-prima?”, questiona Sérgio Saragoça, que chama a atenção para os problemas que existem na origem do processo, ou seja, na extracção e produção da calçada.

O empresário frisa que, neste momento, “entre 80 a 90%” dos trabalhadores do sector têm &ldq

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