Desporto

Daniela Cardoso: a marchar contra o preconceito e a caminho de grandes feitos

22 jan 2016 00:00

Atleta de Pombal que representa o Leiria Marcha Atlética Clube aposta na presença olímpica em 2020

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No atletismo, sobretudo em Portugal, há dois sectores que não recebem a atenção dos outros. Se todos gostam de ver saltos horizontais e verticais, corridas mais curtas ou mais longas, com barreiras e sem barreiras, já de lançamentos e de marcha atlética nem todos querem ouvir falar.

Curiosamente, são as duas áreas que têm conseguido melhores resultados para a região de Leiria, com duas atletas olímpicas, no primeiro caso e, no segundo, alguém que almeja lá chegar, quiçá em 2020.

“O facto do gesto técnico ser um movimento anti-natural pode parecer estranho à maioria da população. É um movimento pouco apelativo e quando é mal executado ainda menos bonito se torna”, admite Daniela Cardoso.

Com 18 títulos de campeã nacional no palmarés, a atleta de Pombal está cada vez mais próxima do topo da marcha atlética portuguesa, que apresenta quatro atletas com mínimos para os Jogos Olímpicos, em Agosto deste ano.

Esta especialidade é, pois, a par da maratona, a que tem mais portuguesas com possibilidades cabais de fazer a marca de qualificação para os Jogos Olímpicos.

De tal forma que os mínimos lusos (1:34:30 horas) são mais elevados do que os internacionais (1:36:00), o que só acontece nestas duas especialidades. E sabia que, com os critérios da federação internacional, Daniela Cardoso (1:35:43) seria a quinta atleta lusa com marca para estar no Rio de Janeiro?

Ou seja, se tivesse nascido em vários outros países, a atleta do Leiria Marcha Atlética teria viagem garantida para o Brasil.

Com duas presenças em Campeonatos da Europa de sub-23, em 2011 (16.ª) e 2013 (11.ª), e a participação no Campeonato do Mundo Universitário do ano passado (10.ª), Daniela pensa, acima de tudo, em continuar a progredir.

“O meu objectivo para 2016 é poder fazer parte da equipa que irá representar Portugal no Campeonato do Mundo de Nações, em Roma. Integrar uma selecção ao lado de grandes nomes como Ana Cabecinha, Vera Santos, Susana Feitor e Inês Henriques será um sonho para mim”, admite a atleta de 24 anos.

Quanto aos Jogos Olímpicos, “é um forte desejo para 2020”. “Apesar de me sentir cada vez mais confiante e experiente, sinto que necessito de mais participações internacionais para que possa estar verdadeiramente preparada para uma presença olímpica. Ainda por cima, apenas existem três vagas disponíveis e neste momento estou na quinta posição. Acredito que para Tóquio o panorama esteja mais a meu favor”, explica Daniela Cardoso.

O foco da atleta orientada por Carlos Carmino está em evoluir. “A minha progressão tem sido paulatina e muito segura. Neste momento poderia estar com melhores registos, mas tive bastante dificuldade em conciliar os estudos com a carreira desportiva nos três anos como sub-23. Foquei-me mais na licenciatura em Desporto e Bem-Estar e não me arrependo. Estávamos conscientes que não me estava a preparar com a quantidade e qualidade de treino que a distancia de vinte quilómetros exigem.”

Agora, a atleta de Pombal está em Rio Maior, onde frequenta o mestrado em Treino Desportivo na Escola Superior de Desporto e aproveita o “contexto favorável” da cidade, onde conta com o apoio do treinador Jorge Miguel e do seu grupo de treino.

Porto de Mós e Batalha

"Para a marcha, o caminho para o Rio começa na Batalha e em Porto de Mós", enfatizou o presidente da Federação Portuguesa de Atletismo (FPA), na apresentação dos Campeonatos Nacionais de Estrada de 35 quilómetros, em Porto de Mós, no próximo sábado, e de 20 quilómetros, na Batalha, a 27 de Fevereiro.

Jorge Vieira defende que a marcha é "um dos sectores mais performantes” do atletismo português. “Tomara nós, que nas 24 disciplinas olímpicas dos homens e nas 23 das mulheres, se passasse o mesmo. Seria sinal de desenvolvimento da modalidade”, destacou.

“É um sector com pouca profundidade, mas com muita qualidade”, explica Carlos Carmino, técnico nacional de marcha, que diz serem “poucas dezenas”, os praticantes do distrito.

Daniela Cardoso quer mostrar serviço. “Em Porto de Mós espero lutar pelo título de campeã distrital e vencer colectivamente, com a colaboração das minhas colegas Vera Portela e Susana Feitor. Já no Campeonato de Portugal de Estrada, na Batalha, quero lutar pela minha primeira medalha na distância de vinte quilómetros e ajudar o clube à conquista do primeiro título nacional colectivo.”