Sociedade
Calma alunos! Calma pais! Mudança de ciclo pode ser um processo tranquilo
Praticar desporto alivia o stress das aulas e promove a socialização para além do ambiente escolar

As transições de ciclo de ensino correspondem, em muitos casos, a momentos de algum receio e ansiedade, quer para os alunos, quer para os seus pais. Existem, no entanto, várias estratégias que podem ser usadas para atenuar esse nervosismo.
“Tenho crianças que estou a acompanhar, precisamente para, nesta fase de adaptação, lidarem melhor com a pressão. São miúdos que entram agora no 3.º ciclo e no ensino secundário”, refere Andreia Estarreja, psicóloga clínica com experiência em meio escolar. “São jovens que me chegam por intermédio das mães. E a estratégia para viver este período envolve sempre psicóloga, alunos e pais. Cada um tem o seu papel”, nota a especialista. “Cada mudança de ciclo cria ansiedade nos alunos, seja porque as disciplinas são mais ou mais exigentes, seja porque se muda de turma ou até se muda de escola. Isso cria nalguns alunos insegurança e instabilidade”, prossegue Andreia Estarreja.
“Por isso, é necessário trabalhar a confiança dos miúdos.” Existem algumas recomendações que a psicóloga deixa desde já às famílias. Em primeiro lugar, é preciso conversar sobre o tema. À refeição, à volta da mesa, pode ser a ocasião ideal para perguntar sobre receios, desafios, medos que os pais podem ir desconstruindo. Como? Para a especialista, é essencial que os pais partilhem as suas histórias, recuperem aquelas que foram as suas experiências, da sua timidez, de episódios de bullying, os seus métodos de estudo, e vão explicando como foram vivendo e ultrapassando as várias situações. Importante também é que, além da escola, os alunos tenham uma actividade extra, seja desportiva ou artística, como dança, futebol, música ou outra. São momentos que lhes permitem sair da rotina, adquirir outras competências e socializar, exemplifica a psicóloga.
Ana Lourenço, mãe do Francisco, está tranquila com a passagem de ano escolar do filho, que agora vai ingressar no ensino secundário no curso de Ciências e Tecnologias. Por um lado, irá manter-se na mesma escola, na Marinha Grande, e terá na sua turma muitos colegas que já conhecia do 9.º ano. “Tem boas notas, mas já o avisei que, para as manter, uma vez que o secundário é mais exigente, vai ter de estudar mais”, partilha a encarregada de educação. O que de certo modo a deixa mais tranquila é o facto do Francisco já ter decidido que, no futuro, quer ser engenheiro mecânico. “Penso que ter um objectivo o fará estar mais focado”, considera Ana Lourenço. Também neste caso, a natação é um desporto e um prazer deste aluno, que, desde tenra idade, tem sabido conciliar bem com a rotina escolar.
Diogo Rodrigues, de 14 anos, prepara-se para entrar no 10.º ano e frequentar o curso de Mecatrónica, na Marinha Grande. Explica que, no seu caso, está a encarar a transição com muita tranquilidade. Em primeiro lugar, porque vai frequentar o curso da sua preferência. “Sempre gostei de aulas mais práticas, mais técnicas. Prefiro essa vertente à teoria”.
Com um conjunto de disciplinas que são na maioria mais práticas, “posso focar-me mais nas outras, que são mais difíceis”, prossegue Diogo. Quanto à avaliação de 0 a 20 valores, será, do seu ponto de vista, muito mais “precisa e justa” do que numa escala de 1 a 5, defende o estudante. Como irá manter-se na mesma escola, também está satisfeito por transitar de ano com colegas da sua turma anterior, aos quais vão juntar-se mais estudantes que já conhece deste estabelecimento de ensino.
Preparar filhos e pais
Mãe de quatro filhos, Ana Monteiro envia este lectivo o terceiro adolescente para o ensino superior. Explica que cada caso é diferente, mas, pelas experiências anteriores, deixa já algumas recomendações aos pais que vivem a situação pela primeira vez Frederico, de 18 anos, vai frequentar o curso de Inteligência Artificial e Gestão de Dados em Coimbra.
“O processo começa logo pela escolha do curso”, repara Ana Monteiro. No seu caso, Frederico entra na primeira opção, o que o deixa satisfeito. Além disso, irá para uma cidade onde já conhece colegas do basquetebol. “Ele tem essa vontade de viver a experiência de partilhar casa com amigos, ter essa experiência de universidade e de diversão.” “É um aluno super-aplicado, que tem boas notas. E em casa é organizado q.b. Sabe cozinhar e sabe gerir a casa”, conta a mãe. “Tem sido preparado também nesse sentido, para gerir as roupas e a limpeza de casa”, prossegue Ana Monteiro.
De início, ainda não sabe se irá arrendar quarto ou se irá ficar sozinho num estúdio, mas, seja qual for a opção, está ciente de que é necessário fazer uma gestão orçamental, explica a mãe. “Os dados estão lançados, a estrutura está criada. Agora, há que amparar no voo e confiar nos valores que lhes passámos até aqui”, salienta Ana. E como os filhos vão saindo de casa – no seu caso só ficará agora a mais nova, de 14 anos – Ana lembra também que os pais se devem preparar e alimentar a sua rede social, de forma a evitar o síndrome do ninho vazio, que sempre acontece quando os jovens se vão autonomizando.
Dicas de poupança
Para quem se prepara para estudar longe de casa, o momento pode ser de entusiasmo, mas também envolve uma série de decisões práticas que não podem ser adiadas. É preciso escolher onde viver, perceber quanto vai custar tudo e como gerir as despesas do dia-a-dia. Há que considerar algumas dicas que se podem revelar úteis para tornar este processo mais tranquilo, refere o site Doutor Finanças.
Para encontrar casa, é necessário ter em conta que as residências universitárias públicas são geralmente a opção mais acessível para bolseiros, mas a oferta é limitada e muitas vagas são ocupadas por estudantes dos anos anteriores. As alternativas são as residências privadas, embora mais caras, ou arrendar um quarto numa casa partilhada. Optar por uma casa inteira, apesar de oferecer mais autonomia, implica custos mais altos. “Para algumas famílias, a compra de um imóvel perto da universidade pode também ser uma opção, até como investimento – uma vez que resolve a questão do alojamento e ainda permite alugar outros quartos e, assim, alcançar algum equilíbrio financeiro”, sugere o Doutor Finanças.
Além da casa, há que contar com o valor das propinas. “As propinas no ensino superior público mantêm-se congeladas desde 2020, com um máximo anual de 697 euros para licenciaturas e mestrados integrados, pagos em prestações definidas por cada instituição.” Já nas instituições de ensino superior privadas, “os valores variam bastante entre instituições, sendo essencial analisar bem os custos e o que está incluído no montante total a pagar”, recomenda o mesmo site. Existem, no entanto, bolsas de estudo e subsídios que podem ajudar a aliviar o esforço financeiro. Trabalhar e estudar, pode ser uma forma de garantir algum equilíbrio financeiro. Entre as opções de emprego mais comuns para os estudantes estão part-times em operadoras de call-center, explicações ou baby-sitting, exemplifica o Doutor Finanças.
“Gerir bem o orçamento é outro dos pilares essenciais nesta fase. Importa identificar quanto dinheiro está disponível todos os meses — seja através de mesadas, bolsas, part-times ou outros apoios — e quais são os encargos fixos, como renda, alimentação, transportes ou telecomunicações. A partir daí, é importante definir um limite para os gastos variáveis – como roupa, restaurantes ou saídas com amigos”, realça o site. Além disso, acrescenta: “Se possível, é recomendável fazer uma visita à nova cidade antes do início das aulas. Conhecer o percurso até à universidade, identificar os principais serviços, os transportes públicos disponíveis ou os supermercados mais próximos permite antecipar necessidades e facilita a adaptação nos primeiros dias, proporcionando uma maior sensação de segurança e conforto desde o início”.