Autárquicas 2025

Alcobaça: num debate civilizado, houve mesmo troca de ideias

27 set 2025 18:36

Habitação, saúde, economia e educação no topo da agenda

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Rogério Raimundo, Diogo Ramalho, Isabel Ventura, Sandra Amaro e Hermínio Rodrigues
Ricardo Graça

Só dois partidos têm representação no executivo. Em 2021, o PS elegeu três vereadores, mais do que em 2017, mas o PSD, com quatro vereadores, manteve a câmara municipal que governa desde 1997. São quase três décadas de poder laranja, o que provavelmente explica as intervenções finais de Diogo Ramalho e Sandra Amaro, os candidatos mais jovens (no concelho) nas eleições que se avizinham – o socialista repetiu o slogan da campanha, “coragem para mudar”, já a cabeça de lista da Iniciativa Liberal, aparentemente com menores expectativas, prometeu “oposição forte” e “construtiva”.

Sempre em tom civilizado, com mais troca de ideias do que farpas no adversário, também Hermínio Rodrigues (PSD, actual presidente do município), Isabel Ventura (Chega) e Rogério Raimundo (CDU) participaram no debate organizado pelo semanário Região de Cister em parceria com o JORNAL DE LEIRIA e com a rádio Benedita FM, que decorreu neste sábado, 27 de Setembro, no auditório da Biblioteca Municipal de Alcobaça.

A abrir, habitação. Rogério Raimundo vê “problemas urgentíssimos”, que pedem respostas “de emergência”, por exemplo, para “incluir trabalhadores imigrantes” que “têm de ter habitação condigna” e para eliminar o “bairro de lata na freguesia de Aljubarrota”. Se a CDU defende “apoio imediato à renda” e “intervenção da câmara” para evitar que os proprietários “deixem edifícios em ruínas”, o Chega sugere uma “via verde” para acelerar licenciamentos e diz que “o PDM não serve os alcobacenses”, logo, “tem de ser revisto”. Isabel Ventura quer disponibilizar “terrenos do município”, propõe construção “a custos controlados”, nomeadamente, “para captação de população jovem”, e subscreve a aposta na “reabilitação urbana” e na recuperação de património do Estado.

Ainda no tema, Diogo Ramalho considera necessário usar “15 milhões de euros” do orçamento municipal para “lançar uma empreitada” de 100 novos fogos. O candidato do PS concorda com apoios à renda e com investimentos na reabilitação, no entanto, acrescenta a possibilidade de “convidar os privados a reunirem-se para construírem habitação”, através de cooperativas.

Já o social-democrata Hermínio Rodrigues anuncia que o executivo tem pronto um projecto de habitação para jovens, de modo a tornar o concelho mais atractivo, depois de entregar “400 mil euros” ao longo do mandato em ajudas a famílias carenciadas de alojamento.

Para a Iniciativa Liberal, as soluções passam pela “desburocratização” e “agilização” dos processos administrativos. E pela reabilitação, “uma prioridade”. Sandra Amaro assinala que as “famílias de classe média não têm acesso” aos programas sociais que já existem e preconiza “parcerias com entidades bancárias” para facilitar a concessão de crédito. Ao mesmo tempo, aponta constrangimentos no sector: a “falta de mão de obra” e os “requisitos para se construir uma casa”, que hoje impedem os promotores de “baixar o custo final”.

Com meia centena de pessoas na plateia, o debate seguiu para o desenvolvimento económico, em que o PS pretende “implementar um centro de serviços partilhados na área de localização empresarial da Benedita” e replicar o modelo de Leiria no domínio das startups, da inteligência artificial e das novas tecnologias. Diogo Ramalho diz que “tem faltado” execução em Alcobaça e acredita que é preciso “dar condições às jovens famílias para que se instalem”.

Neste tema, a CDU defende “infraestruturas de qualidade” e a interligação entre economia, cultura e turismo, e Rogério Raimundo critica a situação da zona industrial do Casal da Areia, que “não está acabada”.

Do lado da Iniciativa Liberal, Sandra Amaro avança com a ideia de criar “a academia do empreendedor” e com a proposta de mais autonomia para as juntas de freguesia, de modo a “libertar a câmara” para outros esforços, como a captação de investimentos.

Hermínio Rodrigues, do PSD, promete ampliar a mancha de zonas industriais e argumenta que os números provam que Alcobaça “já é” um território “atractivo”, um “gigante económico” que “está na moda”.

Contudo, para a candidata do Chega, Isabel Ventura, impõe-se uma zona industrial na sede de concelho, um pólo técnico na Benedita e mais incentivos fiscais, que podem passar por baixar a derrama que as empresas pagam e por devolver mais IRS aos contribuintes.

Isabel Ventura adverte entretanto, no terceiro tema, a educação, que falta em Alcobaça um pólo de formação ligado às empresas. Outra falha que identifica, a carência de vagas nas creches. Quanto a ter ensino superior no concelho, onde só existe actualmente oferta Tesp, deve ser, para o Chega, “um grande objectivo” e “não é impossível”.

A visão da Iniciativa Liberal estende-se até aos estudantes de Alcobaça que estudam em Lisboa ou no Porto e o partido preconiza que possam ser acolhidos em residências universitárias de promoção do município. Sandra Amaro está também preocupada com a insuficiente resposta das creches e ao nível do ensino superior vê Alcobaça a diferenciar-se com uma oferta relacionada com a conservação e restauro.

O foco de Diogo Ramalho aponta para a “falta de qualidade” das refeições escolares, que o leva a querer “internalizar o serviço”, se for eleito. “Seremos nós a comprar os alimentos e a confeccionar”. Os socialistas lembram, igualmente, a necessidade de obras nas escolas D. Pedro I e Frei António Brandão, que, segundo Hermínio Rodrigues, já têm luz verde do governo para avançar.

O autarca do PSD garante que “pela primeira vez” não faltam assistentes operacionais nos estabelecimentos de ensino do concelho e não deixa cair o dossiê ensino superior, mesmo reconhecendo que Alcobaça, provavelmente, neste domínio ficou para trás nos últimos anos. Por um lado, o ainda presidente elogia o impacto dos cursos Tesp, por outro, ambiciona “percorrer caminho” com um horizonte mais amplo. “Penso que vamos conseguir ter licenciaturas”.

Na perspectiva de Rogério Raimundo, da CDU, a investigação, desde logo os estudos cistercienses, é o patamar em que Alcobaça pode ligar-se com o Politécnico de Leiria ou com a Universidade de Coimbra, para não perder o comboio do ensino superior.

O debate fechou com outro tema transversal, a saúde, em que Sandra Amaro sinaliza que “os municípios podem ter um papel atenuador” das dificuldades e fala de fixar profissionais e captar investimentos privados que por estes dias estão a ir para concelhos vizinhos. Para a Iniciativa Liberal, o novo hospital do Oeste deve ficar em Caldas da Rainha.

Pela CDU, Rogério Raimundo alerta que o concelho “não tem sequer uma unidade de cuidados continuados” e exige “mais consultas externas que evitem deslocação até Leiria”, além de uma “atenção especial aos cuidadores informais”.

Já Hermínio Rodrigues promete obras no dossiê centros de saúde. Assegura, ainda, que “está a ser estudado” o transporte a pedido. “Não tenho dúvidas que vai para a frente”, afirma o cabeça de lista do PSD, que diz serem necessários mais dois médicos para se criar uma unidade de saúde familiar em São Martinho do Porto.

Na resposta, Diogo Ramalho admitiu a possibilidade de subsidiar o recrutamento de médicos e criticou o “desperdício” de recursos que admite existir no hospital de Alcobaça. Outra proposta do PS é o financiamento de uma bolsa de horas para os médicos irem a casa dos doentes.

Na saúde, o Chega, pela voz de Isabel Ventura, quer o hospital do Oeste em Caldas da Rainha, melhorias no transporte de doentes e mais condições na saúde materno-infantil.

No concelho de Alcobaça, votaram em 2021 mais de 27 mil eleitores. Depois de PSD e PS, que ficaram com os sete mandatos na câmara municipal, o CDS foi o terceiro partido mais votado, seguindo-se o Chega, o Nós Cidadãos, a CDU e a Iniciativa Liberal.