Abertura

A vida sobre pontas

25 fev 2021 15:37

Talento | Há muito que a dança e a música são duas das principais marcas culturais da região e de Leiria. As escolas e os alunos multiplicam-se. António Casalinho é uma das caras mais conhecidas, mas há mais bailarinos já com carreiras nacionais e internacionais consagradas. A poucos meses da criação da Companhia de Ballet Clássico de Leiria, falámos com alguns, para conhecer as suas histórias

Matilde Rodrigues, bailarina no Birminghan Royal Ballet
Matilde Rodrigues, bailarina no Birminghan Royal Ballet
DR
Laura Viola, finalista do Prix de Lausanne
Laura Viola, finalista do Prix de Lausanne
Annarella Sanchez
Francisco Gomes, finalista do Prix de Lausanne
Francisco Gomes, finalista do Prix de Lausanne
Annarella Sanchez
Bruno Alves, bailarino na Companhia Olga Roriz
Bruno Alves, bailarino na Companhia Olga Roriz
Susana Paiva
António Casalinho, vencedor do Prix de Lausanne
António Casalinho, vencedor do Prix de Lausanne
Annarella Sanchez
João Gomes, pas-de-deux “Satanella”, na gala de ballet no Centrul Cultural “Ion Besoiu”,  em Sibiu
João Gomes, pas-de-deux “Satanella”, na gala de ballet no Centrul Cultural “Ion Besoiu”, em Sibiu
Ovidiu Matiu
Jacinto Silva Duro

“António Casalinho tem já, aos 17 anos, o começo de uma carreira internacional para a qual desejo o maior sucesso.”

Começa assim a mensagem com que o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, felicitou o bailarino de Leiria, António Casalinho, pelos dois prémios conquistados no conceituado Prix de Lausanne, Suíça, há duas semanas.

Na semana passada, foi vez de a Assembleia Municipal de Leiria lhe atribuir , unanimemente, um voto de louvor.

Casalinho é uma espécie de bandeira viva de Portugal no mundo da dança e razão de orgulho para o colectivo nacional, mesmo para os que não se interessam por ballet. Se se estivesse a falar de um exemplo mais popular, poder-se-ia dizer que ele é o ‘Ronaldo do ballet’. Felizmente, não fazemos comparações dessas, certos de que a Dança não precisa de tal redução.

Além do jovem natural de Santa Eufémia (Leiria), há outros bailarinos que, não andando nas bocas do mundo, vivem no mundo das pontas, do pas-de-deux e dos pliés, e têm conseguido sucessos assinaláveis em Portugal e no estrangeiro, todos filhos da região.

Damos aqui alguns exemplos de uma lista que, reconhecidamente, peca por defeito.

Bruno Alves, bailarino da Companhia Olga Roriz
A Companhia Olga Roriz é uma das mais conhecidas a nível nacional e é também, desde 2013, uma espécie de segunda casa para Bruno Alves, um bailarino natural da Quinta da Sardinha, concelho de Leiria. Em 2014/2015, participou no aniversário da estrutura artística que, juntamente com a coreógrafa, explica, é “um pilar na sua vida”.

“Têm sido muito importantes no meu crescimento como ‘homem contemporâneo’”, assegura. Aos 40 anos, Bruno é docente no curso profissionalizado da companhia e até tem regressado a Leiria para colaborar com o Leirena Teatro.

Toda a sua vida foi bailarino freelancer e é na arte de estabelecer diálogos e solilóquios, exprimindo-se com o corpo, que se sente realizado, porém, a docência deu-lhe um novo sentido de vida. “É a concretização de tudo aquilo por que trabalho. Há ensinamentos para transmitir a outros. É muito bonito ver o progresso e a paixão pelas coisas que nos edificam como pessoas e artistas.”

Embora a dança e o palco façam parte do quotidiano de Bruno Alves, o bailarino admite que foi um caminho de vida que aconteceu quase por acaso, mas, descortinada a vocação, foi logo agarrada com todas as forças.

No secundário, adivinhava no seu futuro uma carreira ligada talvez ao design ou arquitectura, pelo que seguiu para Artes. A determinado momento, surgiu a oportunidade de se inscrever numa oficina de Expressão Dramática. “Fi-lo porque ouvi dizer que a professora faltava imenso e isso era puro ouro para um adolescente.”

Contudo, a docente, Helena Azevedo, trocou-lhe as voltas. Não só era assídua, como era dedicada.

“Ela tinha formação de dança e começou a fazer alguns exercícios e o meu caminho foi-se desenhando”, recorda. Na Escola Superior de Dança, em Lisboa, o bailarino descobriu que a sua natural gentileza lhe abria portas e simpatias. Ingressou na Amálgama, com quem, ainda hoje, trabalha e onde descobriu uma concepção da arte “profunda, rica e com boas bases”.

“A cumplicidade, a percepção espacial do outro e as emoções, aprendi-as com eles. Ao longo da minha carreira, sempre fui freelancer, sempre me dediquei à dança e sempre tive o apoio dos meus pais e dos amigos.”

O contacto com Olga Roriz aconteceu com a conhecida Sagração da Primavera, onde se juntou a 21 bailarinos para dar corpo a uma das mais conhecidas produções da premiada coreógrafa. Olga e Bruno forjaram uma relação de simpatia desde aí.

A grande senhora da coreografia achava graça àquele jovem de resposta directa e trato fácil da aldeia. Em 2013, Bruno voltara a ser freelancer e ela procurava bailarinos para um novo espectáculo.

Encontraram-se num evento social. Ele meteu conversa. “‘Por que ainda não te candidataste?’, perguntou ela. E eu respondi: ‘porque estou à espera que me chames para ir trabalhar!’ E ela marcou logo uma data na qual eu não podia comparecer porque tinha um trabalho. Disse-lhe que não podia e pedi que remarcasse... E ela remarcou!”

Bruno Alves fez a audição e ficou desde aí ligado à Companhia Olga Roriz. Afirma-se realizado e satisfeito com a carreira que construiu.

“É uma força interior muito grande que torna possível ter uma vida confortável e digna através da arte e da dança.”

João Gomes, bailarino no Teatrul De Balet Sibiu
João Gomes foi o primeiro dos bailarinos do Conservatório Internacional de Ballet e Dança Annarella Sanchez a conseguir uma posição numa companhia de dança fora de fronteiras. Foi em Setembro de 2019 que chegou de malas aviadas ao Teatrul De Balet Sibiu, na cidade de Sibiu, no centro da Roménia.

Entrou para o corpo de baile e começou a construir um currículo que já o fez assumir papéis principais. “À medida que os coreógrafos começaram a ver o meu trabalho, deram-me outros papéis no clássico e no contemporâneo”, conta o jovem de 19 anos,

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