Entrevista

Susana Rodrigues: “Às vezes não queremos ser super-mulheres, queremos ser só mulheres felizes”

1 out 2020 11:51

A directora-executiva da Leiria Business School acredita que nos próximos anos haverá mais mulheres a liderar empresas

Susana Rodrigues
Ricardo Graça
Daniela Franco Sousa

Oito anos depois de ser constituída, a D. Dinis Business School surge com novo nome e imagem. O que levou à mudança, foi a transformação da escola ou do contexto onde ela funciona?
É muito importante para uma cidade que tem um nome como Leiria ter uma marca forte. E temos um conjunto de instituições, como é o caso da Associação Empresarial da Região de Leiria e do Politécnico de Leiria, que querem reforçar este branding de Leiria. E nós também não somos só uma Escola de Negócios, somos a Escola de Negócios de Leiria. É importante que quem está de fora, quem não está nesta região, perceba que há uma identidade, um DNA, que tem como objectivo pulverizar o conhecimento, que permite capacitar as pessoas para o desenvolvimento pessoal e económico da região. É esta marca Leiria, este esforço comum, que nós queremos encetar, para que haja uma notoriedade, uma consistência, entre todos os que têm esta pro-actividade. E quando agora falamos de Leiria Business School não falamos só do concelho, mas de toda uma região, uma área geográfica onde todos se sentem parte integrante. O objectivo é reforçar essa ideia de pertença.

O que diferencia a Leiria Business School das restantes entidades formadoras da região?
Temos muitas iniciativas que nos diferenciam. Uma delas é a formação para executivos de forma individual. Facilita à vida a quem, por dificuldade de agenda, não consegue incorporar-se em pequenos grupos de formação. Temos também uma formação multidisciplinar, com uma rede de formadores de grande experiência profissional. Isso é mesmo um grande orgulho. São pessoas com enorme sentido prático e com método para promover a aquisição das competências. E oferecemos formação em conteúdos tão inovadores como transformação e digitalização do negócio,economia circular, agro-alimentar, agro-industrial ou economia azul. Temos também os vales de formação para empresas, a formação para a requalificação ou reconversão dos indivíduos, as micro-creditações. Vamos ter LBS – Fora da Caixa, com workshops e seminários onde se debatem novas tendências na área da gestão e também os encontros ao jantar ou ao almoço, com pessoas fora de série. Vamos ter desde músicos, cozinheiros, comediantes, empreendedores, gente com um percurso de vida de grande transpiração e inspiração. São só alguns exemplos, temos muitas ideias novas e diferenciadoras.

Muitas das vossas formações passaram a realizar-se à distância. É fácil motivar as pessoas para aprender sem contacto presencial?
Esta é a realidade que todos hoje vivemos, da qual não estávamos à espera. De um momento para o outro, as pessoas foram desafiadas a continuar a ter as suas relações com os seus parceiros, fornecedores, clientes e com os seus colaboradores, que, pela força das circunstâncias, foram deslocados para as suas casas. Agora que se seguiu para a um desconfinamento gradual, percebeu- se que há algumas mais-valias de estar a trabalhar em casa. Obviamente que a espontaneidade, aquelaequiconversa que surge por reacção a determinado assunto, isso pode perder-se neste contexto. Mas é esta a realidade que vivemos e acredito que no futuro vamos ter um misto, com as empresas a perceberem à força a importância de usar o digital para continuar a comunicar. Vão continuar a usar essa ferramenta, talvez não na totalidade, mas parcialmente, porque permite uma certa flexibilidade.

Que tipo de fragilidades deixou a nu esta nova realidade imposta pela pandemia?
O domínio das tecnologias. Temos inclusive um conjunto de vídeos, que fizemos logo quando a pandemia apareceu, e que permitem a todos os indivíduos saber como se utilizam as várias plataformas e quais as vantagens e desvantagens delas em vários contextos. Foi logo o que fizemos, porque as pessoas têm necessidade de continuar a comunicar. As empresas têm necessidade de continuar a trabalhar.

Que tipo de actividades ou de profissões acredita que o mercado venha agora a precisar mais?
Muitas delas estarão relacionadas com a transformação e com a gestão do negócio online. Porque mesmo as empresas que já tinham algumas destas ferramentas, vão ter agora de as usar de forma mais intensiva e vão descobrir novas funcionalidades que dantes não eram necessárias. Porque antes não tinham de comunicar com 20 ou 30 pessoas à distância e agora vão ter de o fazer. As pessoas precisam muito desse conhecimento para maximizar o seu negócio e a sua actividade profissional. Todos vão precisar de ter uma montra digital. Isso será transversal.

Há forma de recuperar e converter os recursos humanos cujas profissões estão a cair em desuso?
Absolutamente. Não o fazer seria não acreditar nas pessoas. Eu acredito muito nas pessoas e acredito sempre que o ser humano tem um talento que às vezes pode não estar a ser desenvolvido. É preciso olhar para essas pessoas com outro olhar, perceber o que elas gostam de fazer. É preciso que sejam reaproveitadas para algo que gostam muito de fazer dentro daquilo que também seja muito útil às empresas.

E as empresas têm vontade ou tempo para ter esse olhar atento?
Acho que as empresas têm essa necessidade também. Afinal, trata-se de pessoas. É importante dar às pessoas as ferramentas certas para elas poderem produzir o melhor possível e dar o seu retorno de produtividade à empresa. É um fluxo de dois sentidos. Se a pessoa também não estiver à vontade com as ferramentas, caso seja preciso utilizá-las, vai sentir-se desmotivada e desajustada dessa nova realidade. É um desperdício muito grande para a empresa ter um ser humano com recursos, com talentos, e não os aproveitar. As empresas têm de estar disponíveis para isso e os colaboradores também.

Os contactos, as apresentações dos produtos, o fechar de negócios, quase tudo, à excepção do fabrico, passou a depender muito mais das plataformas digitais. O nosso tecido empresarial está preparado para esta mudança ou muitas empresas vão sucumbir durante este processo?
Vamos ter uma situação mista. Há empresas que terão maior capacidade de reacção e de adaptação e há outras que terão mais dificuldade. O nosso papel é ajudar todas as empresas nesse processo de ajustamento.

Essa capacidade de adaptação das empresas depende de que factores? Da idade dos empresários? Do grau académico dos líderes?
Um líder tem de ser alguém naturalmente curioso e atento ao que o rodeia. E tem de perceber a informação que vai recebendo. Estamos felizmente numa região que está muito orientada para o exterior. Os contactos que alguns vão tendo com o exterior fazemnos pensar “se calhar vou ter de comprar aquela tecnologia”, “se calhar vou ter de cortar nos custos e dotar os meus colaboradores com outros conhecimentos, que trarão novas oportunidades”, “se calhar aquela indústriaou aquele sector vai cair e vai desinvestir e é altura de eu pensar noutras oportunidades que aí vêm”. Felizmente, Leiria tem muito boas empresas – sou natural de Leiria e sou suspeita, porque gosto muito da cidade onde nasci - mas Leiria tem este privilégio de ter empresas orientadas para o mercado externo, com as quais se aprende muito com o conhecimento que trazem. E tem centros de formação e de saber, entre os quais o Politécnico de Leiria, que trazem informação, que permitem reflectir e cruzar dados, e tem também um conjunto de indústrias e de serviços de apoio que ajudam outras empresas a crescer. Por isso, acredito que muitas empresas tenham essa capacidade visionária de perceber quais as áreas menos relevantes para o futuro e quais os caminhos que têm de fazer para se adaptarem. Costumo dizer aos meus alunos que há três coisas certas na vida: a morte, os impostos e que tudo muda. As empresas que tiverem esta capacidade de perceber que a mudança vai acontecer, e que se vão preparando para esse ajustamento, serão aquelas que melhor conseguirão responder aos desafios que aparecem constantemente.

Nos tempos que correm, quem está em piores lençóis, os empregados ou os empregadores?
As coisas não se podem dividir. Estão todos no mesmo barco. Acredito na vontade genuína que os empregadores têm de manter os seus postos de trabalho, assim como acredito na vontade genuína que os colaboradores têm de fazer parte desse processo construtivo, de continuar a trabalhar todos em conjunto. Se souberem quais as áreas onde têm de apostar e os conhecimentos que têm de adquirir, todos em conjunto vão ultrapassar as dificuldades. Quando é mau, é mau para todos. Portanto, acredito que todos tenham disponibilidade para continuar esse caminho de forma construtiva e integrada. O melhor activo das empresas são os seus colaboradores e as empresas não vão conseguir ir mais além sem as suas equipas por detrás. Trabalhar a partir de casa tornou-se inesperadamente uma possibilidade comum.

Qual é o segredo para equilibrar o tempo para a família e o tempo para a profissão sem enlouquecer nem perder produtividade?
Em tudo na vida é preciso bom-senso. Às vezes é difícil conseguir esse equil

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