Entrevista

Sofia Ramalho: “Tem crescido o número de jovens com ideação suicida e com comportamentos auto-lesivos”

19 jun 2025 08:02

A Bastonária da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) alerta para a exigência sobre os jovens e admite que Portugal é um dos países com mais doença mental. A falta de psicólogos leva a um aumento do consumo de psicofármacos

Sofia Ramalho
Ricardo Graça

Como é que está a saúde mental dos portugueses?
A maior parte dos portugueses já vive a saúde mental como uma questão relacionada com o bem-estar e não só com a preocupação de não ter nenhuma doença mental. Com esta maior consciência, há mais procura por apoio psicológico, embora haja também maior incidência de problemas de ansiedade e de depressão. Há ainda quem procure os psicólogos para desenvolver as suas competências pessoais e tomar decisões, seja face aos relacionamentos ou ao emprego, por exemplo. Também temos tido grupos mais vulneráveis, como crianças e jovens, sobretudo na fase da adolescência, e a população sénior, que surgem com mais situações de sofrimento emocional. Muito desse sofrimento, quando se prolonga no tempo, dá origem a problemas de saúde mental do foro mais clínico.

Os jovens são mais ansiosos e depressivos, mas a adolescência sempre fez parte da vida de todos. Antigamente não eram diagnosticados?
A adolescência sempre foi uma idade crítica, mas o contexto social é muito mais complexo, mais exigente e mais nefasto quanto aos seus efeitos negativos. É uma fase de grandes alterações, onde os jovens se tentam posicionar e ser mais assertivos. É o primeiro ensaio na argumentação e é por isso que surgem muitas vezes conflitos com os pais. Hoje, as redes sociais amplificam muitíssimo aquilo que é a experiência afectiva e racional dos acontecimentos e tanto podem amplificar num sentido positivo, como negativo, quando a partilha põe em causa a imagem, o pensamento ou até uma opção de vida. Portanto, o jovem fica muito mais vulnerável. Há ainda uma preocupação com o desempenho escolar - não é só a pressão da família -, pois existe uma competitividade entre os jovens. Todos querem ser bem-sucedidos, porque o padrão exigido a nível social é de elevada performance. É muito mais difícil atingir esse padrão, que é quase de perfeccionismo. Quanto maior for a distância entre a percepção que o jovem tem de si e a imposição que se coloca a si próprio do ponto de vista do desempenho e da perfeição, vai gerar aquilo a que chamamos de crise. O jovem cai no abismo e podem aparecer os sintomas mais depressivos e de ansiedade. Por isso, tem crescido o número de jovens com ideação suicida e com comportamentos auto-lesivos. O próprio suicídio também tem aumentado. Cada vez há mais situações de divórcio e monoparentalidade, que é exigente para o progenitor, mas também para a criança e o jovem. Temos as situações de reconfiguração das famílias, que obriga a novas adaptações. E, portanto estamos a exigir das crianças e dos jovens muito mais do que se exigia no passado.

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